Proseiros | Contos

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Conta-se que Aristóteles, há mais de dois mil anos, teria dito que o todo pode ser maior que a soma das partes. Proseiros – Contos é um exemplo do que na matemática poderia soar como absurdo, mas que, na literatura, é saborosamente plausível.
Neste projeto, cada um dos autores brilha em seu labor de manejar palavras para construir, em seus contos, significado e sentido. Mas todos juntos, explorando amor, suspense, tragédia e tantos outros momentos ficcionais, é aquela pincelada final que o artista dá na tela, instantes antes da assinatura.
Os Proseiros integram a oficina Provocações, da Editora Pragmatha, que contempla mentoria e encontros mensais para leitura e análise crítica. São todos escritores e leitores beta, em pleno processo de construção compartilhada. As particularidades de cada um, a partir de sua historicidade e representação de mundo, formam um mosaico perfeito, porque todos muito diferentes.
Cleia Dröse escreve como quem decifra um teorema complexo. Observa minúcias, atenta para cada vírgula, detém-se em especulações e interpretações das particularidades de cada personagem e situação. Desenha cenários e então define os passos, a exemplo de como trabalha um neurocirurgião. De tão precisa, sua prosa passeia pela poesia.
Eduardo Guilhon Araújo coloca terno e gravata em suas produções literárias. Mesmo nas narrativas mais prosaicas, com jeito de terem sido concebidas para entreter e ironizar, existe uma cortesia com o idioma que pede, para a leitura, um vinho tinto e meia luz. E uma madrugada chegando?, talvez…
Giovana Schneider é mestre nos diálogos e na construção de personagens dos quais se tem vontade de ficar amigo. A menos, claro, que você seja um criminoso, porque nem precisam ser detetives para que seus protagonistas desvendem os segredos de quem mais está na narrativa. Nota mental: seja sempre amigo da Giovana.
HB Ribeiro tem escrita charmosa, que flerta com as letras. Quando você percebe, está seduzido. Não há tema que lhe apresente resistência. Especulo que todos os dias, em algum momento, HB Ribeiro prepare um bom chá e organize o ambiente para receber a visita das musas. Estou com ciúme, confesso.
Rosalva Rocha prima pela estrutura, consistência. Seu texto é bem arranjado, seguro e se impõe. Revela toda a perspicácia em observar o comportamento humano, suas nuances e particularidades, deixando em primeiro plano aqueles segredos íntimos, próprios de confessionários e consultórios. Seus personagens são humanos, demasiadamente humanos.
Magno Machado de Freitas escreve como um pintor impressionista, usando a pena com velocidade e vigor. Seus personagens têm aquela despretensão de quem não se leva a sério, ao mesmo tempo em que não brincam em serviço. Magno flana sobre as linhas que separam contrastes. Há um certo enigma ali, que nem sempre pede para ser desvendado, mas que com alguma frequência subjuga.
Mara Carvalho Leite desempenha com desenvoltura o papel de cronista da vida como ela é. Seus escritos têm uma pitada de crítica e desconforto, mas também de humor e irreverência. Como leitor, você pode ficar em dúvida se Mara acredita na humanidade ou não, no sentido de esperançar. Mas que as pessoas são sua principal matéria-prima como escritora, ah, sem dúvida, são.
E quanto a mim, que também integro a obra como autora, resta-me dizer que tenho a sorte e o prazer de estar cercada de gigantes.
Desejo uma ótima leitura!

Sandra Veroneze | Editora

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