Por Dudlei Floriano de Oliveira
O processo criativo do escritor é marcado por constantes momentos de leitura, releitura, escrita e reescrita, momentos esses caracterizados por frustrações e sucessos. Pensando nisso, trazemos uma lista com alguns filmes que abordam o ato do fazer literário, suas dificuldades e seus prazeres.
As Horas (2002): Nicole Kidman venceu o Oscar de Melhor Atriz interpretando a escritora inglesa Virginia Woolf, no aclamado filme As Horas, baseado no romance homônimo, vencedor do Pulitzer. O filme se passa em um único dia na vida de três mulheres, cada uma vivendo em uma época diferente: enquanto Virginia Woolf escreve o romance Mrs. Dalloway na década de 1920, outra mulher, na década de 1950, tem sua vida impactada pela leitura do mesmo livro, e, cinco décadas mais tarde, a narrativa do livro parece ganhar vida com a personagem interpretada por Meryl Streep. Conforme a narrativa avança, a relação entre as três personagens vai ficando cada vez mais próxima, mesmo que vivendo em diferentes momentos e lugares, através de uma conexão que somente a arte literária pode oferecer.
Desejo e reparação (2007): Baseado no romance de Ian McEwan, o filme começa com uma jovem aspirante a escritora, poucos anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. A jovem é interpretada por Saoirse Ronan, que foi indicada ao Oscar com apenas 13 anos de idade por esse filme. Sendo ainda uma pré-adolescente, ela tem a imaginação fértil, o que a faz interpretar certos eventos ocorridos na família de maneira equivocada. Esse equívoco gera consequências para diversas pessoas e é somente seu amadurecimento como pessoa e como escritora que vai ajudá-la a perceber o poder da literatura para tentar, de alguma forma, reparar as consequências graves de sua interpretação falha.
Mais estranho que a ficção (2006): Um homem que tem uma vida comum e um trabalho comum de repente começa a ouvir uma voz narrando sua rotina. Sem saber ao certo se ele está enlouquecendo ou sofrendo algum dano neurológico, ele decide consultar professores de literatura por achar que, ao invés de uma condição mental, ele poderia ser o personagem de uma obra literária. Mesclando comédia e elementos de fantasia, o filme brinca os limites entre autor e obra, e sobre o quanto há de autonomia entre cada um. Em uma época em que muitos escritores sofrem com bloqueio criativo ou com as críticas do público, o filme traz uma interessante reflexão sobre o significado de criar um mundo narrativo em que personagens podem acabar ganhando vida própria.
- Autor do livro Filmes Nacionais no Instituto Federal, lançado pela Pragmatha Editora, e possui formação em Letras, com ênfase em Literatura, área em que leciona há mais de uma década, tendo experiência tanto no ensino básico como no ensino superior. Possui interesse em Literatura, Cinema e estudos de adaptação do texto literário para a linguagem audiovisual