Xará

O sol se pôs no horizonte e Leonardo, cansado de um dia exaustivo nas plantações, volta para casa exaurido e melancólico. Em seguida será Natal e o dinheiro escasso não lhe dá muitas opções de fazer a alegria dos filhos. Já são dois anos de uma situação complicada para o mundo inteiro e ultimamente, não bastasse a crise sanitária, La niña tem interferido no clima e a chuva andou escassa nos últimos tempos. Nas lavouras, as plantações sedentas murcham, à espera de gotas abençoadas.
Quando alcança a porteira do potreiro, quase chegando aos galpões, ao virar-se para fechar com a argola de arame que impede que os animais saiam, percebe um facho de luz brilhante cortando os céus. Não sabe se por um ato reflexo diante de tal imagem ou se por pura exaustão, cai de joelhos e reza. Reza pelo menino na manjedoura que simboliza todo o sofrimento que a humanidade precisa suportar, pela família que o aguarda confiante de que ele para tudo irá encontrar uma saída, reza pelas almas dos que já partiram – e são tantos que não se dispõe a nomear nem sequer mentalmente.
Quando se ergue, agarrando-se na porteira, tem o rosto banhado em lágrimas. Nos noticiários, belas imagens de um cometa denominado Leonard, que tem embelezado o céu meridional neste dezembro de 2021.
Leonardo não fazia ideia de que tinha um xará passeando pela imensidão do Universo.

Por Cleia Dröse

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br