
A escritora Cleia Dröse é autora do romance O Quarto Pilar, uma narrativa que convida a refletir sobre a relação do ser humano com o meio ambiente. Para o leitor, é intrigante e, segundo a editora Sandra Veroneze, da Pragmatha, indispensável sob o ponto de vista da construção de consciências. Ao mesmo tempo, um texto delicioso! Confira a entrevista com a autora.
Sua narrativa começa no ano de 2999. Como foi o processo de escolha do tempo em que o romance se daria?
A intenção era criar uma distopia futurística que servisse de alerta, de reflexão para as questões que o mundo vive hoje com agressões contínuas à natureza e a data específica de 2999 foi devido a que a virada de milênio é sempre um momento de mágico temor pelo que virá. Quem nasceu no milênio passado, como eu, ainda deve lembrar da ameaça de que tudo acabaria na virada para dois mil.
A topografia da comunidade principal é em forma de espiral. Que simbologia você traz com esta estrutura e qual o diferencial dela para a história?
A escolha de uma espiral foi para representar que os caminhos não são retos, reais ou metafóricos. As curvas fazem parte da caminhada. Por outro lado, isso me possibilitou representar o poder no topo, tal qual na realidade que vivemos. No topo, tudo; na base, nada. Como os personagens precisavam comparecer periodicamente ao poder central, a ideia de provocar no leitor a sensação de subir lentamente aquele declive, vestindo a roupa de proteção, munido de apenas um cajado para defesa pessoal, me pareceu representar muito bem as dificuldades das pessoas comuns na vida real.
Os ferais são o povo mais temido. Mas depois de se conhecer sua origem, o leitor é convidado a sentir empatia. Era este o objetivo?
Sim, e também é uma forma de nos reportarmos à realidade. Os mais velhos reclamam sempre da juventude, imputando-lhe responsabilidades por tudo de ruim que acontece. Mas esquecemo-nos (eu me incluo aí) de que são o fruto de nossas vivências, dos valores que repassamos ou não a eles. Muito fácil dizer “a juventude é problemática”, difícil assumir que talvez a atitude dos que os geraram/educaram contribuiu para que assim fossem.
Qual seu personagem preferido?
Difícil eleger um, porque esta é uma história sem protagonista, mas eu gosto muito do artista, daquele que vê na arte uma válvula de escape para as frustrações e dificuldades que enfrentamos.
Que paralelos você traça entre a sociedade atual e a sociedade que você descreve no livro?
A obra foi escrita durante o período de distanciamento social, na época da pandemia. Não posso falar pelas pessoas em geral, mas para mim, pelo menos, foi um tempo de reflexão, conscientização da nossa fragilidade diante de um inimigo invisível. O enredo de constante ameaça retrata um pouco isso. Se eu sair destas quatro paredes, estarei me expondo e posso morrer.
O quarto pilar: distopia ou futurologia?
Embora concebido como uma ficção distópica, ao refletir me ocorre – com certo temor, não posso negar – que muitas obras de ficção do passado acabaram por se revelar reais com o decorrer do tempo. É um mistério essa concepção de ideias que temos às vezes os criadores de histórias para “prever” acontecimentos futuros, ainda que não tenhamos consciência disso. “O quarto pilar” neste momento é uma distopia, porém pode se revelar futuramente como uma obra que aponta para uma triste realidade, por obra e responsabilidade da própria humanidade e sua ânsia de consumo.
Para adquirir O Quarto Pilar e recebê-lo em casa, acesse: https://pragmatha.com.br/produto/2267/#:~:text=O%20Quarto%20Pilar%20tem%20a,%C3%A0s%20lutas%20nas%20quais%20acreditam.