Uma vida de mágoas

Desceu as escadas apressadamente. Era a última oportunidade para Josélia pedir perdão à sua mãe, a mulher que a entregou, recém-nascida, aos avós maternos para criá-la. Passaram-se 28 anos desde então e a mágoa de Josélia foi crescendo assustadoramente com o tempo. Nunca perdoou a mãe por tê-la entregue, muito embora nunca tenha sido abandonada totalmente por ela. A mãe residia em cidade próxima e, sempre que podia, passava os finais de semana na casa dos pais com ela. Os anos fizeram com que o amor se esvaziasse e uma convivência medíocre, sem qualquer diálogo, tomou o lugar de tudo. Nada era novo, nada era agradável, sempre o “nada”, levando a vida de todos a uma situação insuportável.

Os paramédicos já tinham colocado a sua mãe na ambulância quando Josélia suplicou um minuto com ela. As portas da ambulância foram abertas e ela, aos gritos, pediu perdão à mãe. Ao olhar para o paramédico que a acompanhava pressentiu que já era tarde. O câncer fora galopante demais e chegara a sua hora.

A ambulância afastou-se aos poucos. Não havia mais pressa. Restou somente a pressa de Josélia, sentada na sarjeta, buscando entender o porquê de tamanha mágoa sem qualquer busca de entendimento. 

Por Rosalva Rocha

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br