Uma cena de rodoviária

O ônibus chegou e, em meio àquele rebuliço de pessoas na rodoviária, ela pegou suas coisas e apertou contra o peito. Diferente de muitos dali, que carregavam o mundo nas costas, ela levava esperança e desejo. Volume físico, pouco. Mas pesava na alma o medo de não ver seu namorado, seu querido, seu José, na partida do ônibus. Por isso, não entrou. Esperava. Olhava e esperava. Desejava e esperava. Ele prometera, por isso esperava. Prometera também casamento, família, filhos, morar lá fora. Então ela esperava. Se ele não viesse, sabia que não poderia esperar mais nada. Era seu medo. Tudo terminaria. Tudo.  Ela entraria no ônibus mais vazia do que havia chegado na rodoviária. Nem que comprasse todos os lanches, todas as águas de garrafinha, todas as frutas à venda.

Estaria vazia. Chamaram para partida e teve de entrar no ônibus. Subiu a escada como se fosse muito velhinha. Sentou-se no lugar e o ônibus partiu.

José ainda chegou a tempo de ver a saída do veículo. Um objeto único, à distância, que não mostrava as dores de cada um dos que estavam dentro.

Por HB Ribeiro

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br