Um passeio por Copacabana com o conto O Civil, do livro “A Quimera do Torto”

Eduardo Guilhon Araújo é daqueles escritores que temperam suas obras com um tanto de ficção e outro tanto de concretude. Sua obra “A Quimera do Torto – Um olhar oblíquo pela história do Brasil século XX” tem a capacidade plástica de transportar o leitor para locais os mais diversos do país. Um deles é a orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, que o autor costuma frequentar e que no conto “O Civil”, da obra, é explorado em detalhes.
Convidamos Eduardo a nos apresentar o bairro, pela sua ótica de escritor, e assim ele começa a jornada:

Se você tem curiosidade de conhecer e algum tempo sobrando, inicie no Forte de Copacabana, posto 6 (aliás um segredo carioca, o posto 6 em si não existe mais; partindo de Ipanema a numeração vai diminuindo sendo o 7 no Arpoador e depois pula para o 5; mas o lugar ainda é chamado de Posto 6 então não lutemos com a história). Antes de entrar no Forte, repare um enorme hotel que há do outro lado da rua. Hoje ele se chama Fairmont, mas já foi Rio Palace e Sofitel. É um enorme edifício construído em cima de um pequeno Shopping chamado Cassino Atlântico. Era exatamente neste lugar que existia o cabaré chamado Mere Louise mencionado no conto.
Aproveite para visitar o Forte de Copacabana, que parece entrar no mar proporcionando belíssima vista. O Forte foi o epicentro da revolta “Os 18 do Forte” retratada no conto e abriga o Museu Histórico do Exército. Vale muito o passeio que pode terminar em um café na Confeitaria Colombo que fica ao ar livre em cima do mar. Imperdível.
Saindo dali você pode escolher entre caminhar pela orla de Copacabana ou pedalar. Logo no início há uma estação de aluguel de bicicletas, então fique à vontade para optar pelo meio de transporte que mais lhe agrada. Praticamente ao lado está a estátua do bom baiano Dorival Caymmi, com seu violão, braço estendido e aquele sorriso cativante. Mais um pouco e você pode admirar outra estátua, esta mais séria, mas de outro gênio: Carlos Drummond de Andrade. Particularmente acho fantásticas estas estátuas que retratam pessoas sem pedestais, no nosso meio, como pessoas normais. Ficam mais humanas.
Avançando pela orla, logo depois você verá um prédio que se diferencia dos demais por suas varandas de inverno de formato redondo, único em toda orla. A cor também chama atenção em um verde (ou azul?) diferenciado. É ali na cobertura no número 3940 da Avenida Atlântica que ficava o escritório do nossos arquiteto-mor Oscar Niemeyer que nunca gostou de linhas retas. Vale parar e admirar.
Prosseguindo você pode observar o famoso calçadão de Copacabana com suas linhas que imitam as ondas do mar. Mas deixe-me contar outro segredo que mesmo poucos cariocas conhecem: os desenhos do canteiro central também são belíssimos e injustamente desprezados. Antes de ir veja do alto, pelo Google, garanto que você vai se surpreender com tamanha beleza de seus desenhos múltiplos.
Indo até a Rua Siqueira Campos (transversal à praia) você se deparará justamente no calçadão central com a estátua do personagem que deu o nome a esta rua. Mão no peito, joelhos tombando, Siqueira Campos foi protagonista da revolta dos “18 do Forte” e um dos dois sobreviventes. Nosso Otávio, o Civil, não teve a mesma sorte e tombou. Foi neste exato ponto a tropa legalista atacou e acabou com a revolta.
Bom como este papo de morte é pesado, para relaxar, entrando um pouco na Siqueira Campos você dá de cara com um típico boteco carioca, o “Manuel e Joaquim”. Uma parada para chopp faria bem aproveitando de um patrimônio carioca que é o ambiente de um boteco. Depois, se você ainda tiver fôlego para esticar na história vá pela Siqueira Campos até a Rua Toneleros. Entre a direita e procure o número 180. Foi lá que um atentado vitimou um Major da Aeronáutica, Rubens Vaz, e feriu o jornalista Carlos Lacerda em 1954. Os acontecimentos depois vitimaram não só o governo Vargas como o próprio presidente.
Mas esta é outra história.


Por Eduardo Guilhon Araújo

. Foto do autor

Para conhecer a obra, acesse: https://pragmatha.com.br/produto/a-quimera-do-torto-um-olhar-obliquo-pela-historia-do-brasil-seculo-xx/