Desceu as escadas apressadamente, não queria demorar, ainda nem tinha saído e já queria voltar, não conseguiam se desgrudar, eram dois polos magnéticos impossíveis de se desgarrar.
Tinham simplificado o que todos diziam ser extremamente complexo, encaixavam-se perfeitamente como côncavo e convexo, tanto no Amor quanto no sexo, eram um microcosmo juntos, espelho e reflexo.
Completam suas frases rapidamente, respondiam juntos naturalmente, um plantava e o outro regava a vital semente. Quanto à paixão? Ah, cada vez mais quente e ardente. Claro, evidente.
Eram céu e mar unidos no horizonte, o mágico remanso do pôr-do-sol atrás do monte, a água mais pura e límpida direto da fonte.
Inseparáveis, indissociáveis, inalienáveis, inexoráveis, irrefutáveis.
Um oásis no meio do deserto, um paraíso escancarado e aberto, tudo de bom e certo.
O mais belo futuro já estava nas estrelas registrado, nada poderia dar errado, era um sonho real e encantado.
Na verdade, um minuto distantes parecia uma eternidade, precisava retornar logo com máxima prioridade.
Decidiu voltar, afinal, alimentavam-se em suas bocas e corpos reciprocamente, o reencontro era urgente e o Amor premente, tudo mais pode esperar, menos a gente.
Por Leonardo Andrade
C`est fini
Desceu as escadas apressadamente, ignorando o antigo medo de cair, mais forte do que tudo era sua vontade de sair.
Bateu a porta sem olhar para trás, acabou, não dava mais, tinha suportado por tempo demais.
Toda mágoa contida pela represa estava aos poucos destruindo sua natureza, e lentamente esmaecendo sua chama acesa.
Todas as palavras trocadas tinham algo de rancor, destilavam o inconfundível veneno do desamor e a pintura já não tinha mais cor.
Há muito tempo o relacionamento tinha deixado de ser saudável, todo silêncio soava desagradável e se tornava quase interminável, o antigo lar aos poucos tornou-se inabitável e a convivência impraticável.
O carinho desapareceu primeiro e logo depois veio buscar o respeito, foi quando ficou irreversível o defeito e apareceu o consenso que não tinha mais jeito.
Sentia-se acuado em sua própria casa, pássaro sem asa, foi desaparecendo a profundidade e a relação ficou impraticavelmente rasa.
Não havia mais refúgio nem na poesia, Neruda tinha desaparecido do seu dia a dia, a ausência das rimas lhe feria e os livros fechados se tornaram um fiel retrato de sua agonia.
Partia levando o que restava de sanidade, rompendo os grilhões e gritando sua liberdade, estava vivendo uma mentira que clamava por liberdade.
Não poderia apagar o passado mas o relegaria a indiferença, atrás da porta, do outro lado, bem trancado, onde jamais seria revisitado
Por Leonardo Andrade
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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br