Tudo é possível pra quem crê

– Eu quero um irmãozinho, disse João.

Imediatamente seus pais lhe responderam:

Temos que fabricar um.

Pensativo, o menino foi se afastando e se pôs a refletir sobre o assunto. Instantes depois observou que quase tudo em sua volta era, de algum modo, fabricado. Seria então apenas mais um processo desenvolvido pelo homem? Nada de extraordinário concluiu.

Adotou, então, um lugar amplo, alto, à sombra de uma árvore robusta que popularmente chamavam de periquiteira. Passou assim a dedicar o tempo ao seu silêncio. Atravessou um longo período em sua mudez, sentado, sempre que possível, no mesmo lugar. Porém, seu pai fora convocado para prestar serviço militar e então seguiu caminho.

Depois de longa ausência, regressou e o menino, contente, correu em sua direção gritando: “eu tenho um irmãozinho”. O pai, indignado, esbravejou e foi imediatamente tirar satisfação com a esposa, que nem teve oportunidade de perguntar do que se tratava. No mesmo instante, pegou suas roupas, as poucas que ainda estavam a sua espera, e foi embora definitivamente.

João, outra vez, como sempre, voltou a conversar em silêncio e na sua mudez concluiu: a projeção mental criada pelo homem destrói a si mesmo.

Eram palavras emitidas pelo irmãozinho fabricado que lhe fazia companhia em todas as ocasiões e lhe aconselhava sempre que se fizesse necessário.

Por Nelci Bach

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br