Triste encontro

Perdi o apetite naquela noite gélida. Não era para menos. Como continuar o meu jantar naquela cantina tão discreta, enxergando ao longe o meu cunhado chegar com a amante? Crápula, nojento, mentiroso!  Nunca gostei do seu jeito “sabedor de todas as coisas da vida”. Nunca ousei argumentar coisa alguma, porque minha irmã o amava e, com pouca sabedoria, encobria todos os defeitos dele, inclusive a sua falta de caráter. Pouca sabedoria porque, embora disfarçasse, somatizou por mais de trinta anos aquela relação instável, sem eira nem beira. Naquela noite, ela já tinha partido, vítima de um câncer galopante que, segundo o meu entendimento, surgiu por tanto desamor. Não foi preciso muito tempo para que ele, o marido que nunca foi marido, surgisse com a amante de longa data e de conhecimento de todos. Sempre teve vida dupla.

Perdendo, a fome pedi ao garçom uma água com gás e, segurando tremulamente o copo, rezei. Rezei por ele, que nunca soube valorizar uma mulher que merecia ser feliz e agradeci por ela, já que eu sentia que ela estava em um lugar melhor.

Ao sair, tendo que passar pela mesa do casal, olhando-os nos olhos, cumprimentei-os discretamente e, em fração de segundos, fui tomada por um jato de vinho tinto proveniente de uma taça caída. Não, não foi por querer; foi puro nervosismo. Disso eu não tive qualquer dúvida. Ele perdera o vinho que estava saboreando da mesma forma que perdera a dignidade por tantos anos. O meu vestido manchado?  Ao chegar em casa coloquei-o no lixo.

Por Rosalva Rocha

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br