Muitas vezes, nem é intenção do autor, mas acaba acontecendo: a obra literária leva a reflexões profundas e, por consequência, aprendizados. Foi assim com “O quarto pilar”, da escritora Cleia Dröse. Ela reporta nos feedbacks de leitores esse traço e preparou um texto compartilhando sua percepção e análise. Confira:
“O quarto pilar” foi escrito num momento em que a pandemia fez com que me voltasse para dentro, trazendo uma intensa reflexão sobre a vida, sobre a humanidade e o futuro do planeta e da civilização atual. Sentia como se tivesse sido “arrebatada” por uma necessidade imperiosa de escrever sobre isso. À época, não tive a intenção de que a obra “ensinasse” algo a quem quer que fosse. Interagi com as pessoas que foram base para os personagens de forma a suprir minha ânsia de entender o mundo e em especial o que estava acontecendo com minha subjetividade.
Porém, alguns leitores a posteriori me deram retorno sobre a obra. A maioria ressalta a questão de nossa responsabilidade em relação aos cuidados com a saúde do planeta, já que a realidade ficcional mostra um planeta destruído. Creio que este foi um aprendizado ou pelo menos a reflexão mais forte apontada pelos leitores.
Outros ainda ressaltaram a importância da cooperação entre os membros dos núcleos que precisavam juntar sua força energética para que a tarefa das “viageiras” tivesse condições de ser executada.
Alguns (poucos, na verdade) se referiram à questão do preconceito, talvez uma eterna chaga da condição humana. Estes apontam para o fato de que o povo do pântano era tido como a escória de Cosmópolis e, no entanto, eram os descendentes do grupo que havia vindo do passado para trabalhar na restauração do planeta. O povo do pântano havia se tornado o que era por ter passado pelo processo desencadeado por todas as catástrofes provocadas pelos antepassados, ou seja, por nós?
A mim, particularmente, o aprendizado que “O quarto pilar” me proporcionou é que podemos criar a partir de nossas angústias, de situações difíceis como foi (está sendo) a pandemia de covid-19.
Por Cleia Dröse