Trem das onze

Mais três horas e estaria tudo acabado. Mariah olha no velho relógio em seu pulso, dá um sorriso amargo, engole em seco. A vida não foi sua amiga. Mesmo sendo estudiosa, sempre gostou de filosofia — pensa. Ela cresceu num orfanato, nunca conheceu o tal falado amor fraterno. Foi abusada várias vezes em troca de um prato de comida. Hoje era natal, daria a si mesma um presente, o único possível. Talvez já tivesse que ter feito isso antes, mas faltou coragem. Agora não tinha volta. Sabia que as onze ele passaria por ali. O relógio marcava nove horas. Ajeitou o travesseiro no trilho, tomou um remedinho, agora era só aguardar. Não era o barco de Caronte, e isso não importava. Era o trem das onze que levaria ela dali.

Por Giovana Schneider

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