Franciely Sampaio é autora do livro Anfêmer(a), que está sendo produzido pela Pragmatha Editora. Em seus textos, ela “brinca de acoplados” e escrever a liberta. “Costumo dizer que escrevo para não sufocar, escrevo para não explodir em mim, ou… Exatamente, para isso”. Confira a entrevista.
Quem é Franciely Sampaio?
Menina doce, interiorana, a mais velha de três irmãos, apaixonada pela arte… A quem eu engano com a doçura? Mas sobre paixão é verdade! Faço arte desde muito cedo. Me enviesei pela dança e a partir do teatro e das leituras dramáticas comecei a escrever. Amo as palavras, o que elas me provocam! A ideia de transformação também me retém. Bom, artista, sou mulher apaixonada por arte dramática e escrita, e a partir disso eu vivo.
Como surgiu a ideia do livro?
Trabalho com o ser feminino em sua essência, seja no teatro, na dança, na literatura. É meu primeiro livro, mas sempre escrevi, e desde sempre escrevo para mulheres. Era uma forma de eternizá-las em mim, na minha vivência, no que aprendi a partir delas. Brinco de acoplados e a ideia surgiu depois de ver a dimensão e intensidade que esse acoplado-relações tinha; e pela primeira vez, senti a necessidade de mostrar para mais pessoas. No meio do processo, abriu o edital de incentivo à cultura, através da Lei Aldir Blanc e da Prefeitura Municipal de Aracruz, e passei. Foi mais um empurrão, e que empurrão!
Por que este título?
Depois de escrever alguns textos sobre a ideia de amar, não falando exatamente do amor em si, parei para pensar nas minhas idas e vindas, nos meus relacionamentos como um todo e no looping que vivo referente aos meus afetos. É como um looping eterno em relações. Em amor. Num amor só. Juntando as minhas loucuras e respondendo alguns dos meus questionamentos, me veio Anfêmer(a). Anfêmero, de cotidiano, diário, comum… Tenho percebido no muito que se repete, que minhas relações anfêmer(a)s não são só minhas. Por isso, Anfêmer(a), num feminino contínuo.
Como foi o processo de escolha dos poemas?
Peguei todos os meus textos antigos e reli com o coração bem aberto. Peguei as histórias significativas pra mim e acoplei num documento. Costumo dizer dos inícios fim-meio das minhas relações, porque acabam geralmente antes do trágico fim; normalmente dói muito, segue e finda. Segui essa linha de raciocínio para conseguir um enredo interessante. Com as leituras e sistematização, trago um amor só e muito bem aproveitado.
Quais temas, fundamentalmente, você aborda?
Trago minhas felicidades e aflições dum mundo mulher, e dum mundo mulher lgbtqia+, de relações lgbtqia+. Em tempos tão trevosos, em retrocessos e mortes brutais por lgbtfobia no Brasil, falar desse amor igual é imprescindível. Numa sociedade que prega e direciona ao heteronormativo, no inevitável da vida, da nossa vida, existir sem ser/estar, sem poder ser/estar, nos faz encarar as situações com outros olhos. A ideia é trazer no livro um movimento político a respeito de liberdade e pertencimento, mostrar às pessoas uma realidade próxima, possível e natural.
Você participa do Caderno Literário Pragmatha, publica poemas nas redes sociais… Como você lida com o feedback do público?
Eu me amarro! As possibilidades que um mundo de arte te proporciona são incríveis! As interações, as trocas, a verdade de quando sensibiliza, sabe? E acho que estar num palco desde muito cedo me ajuda a ver outros ângulos, me aproxima e me ajuda a entender as margens e peculiaridades do espectador/leitor do meu trabalho. E isso é lindo!
Você tem uma ritualística para escrever?
Não tinha. Fiz um curso recentemente que me instigou maravilhosamente e me obriguei a escrever todos os dias por seis meses. Foi intenso. Sorri e chorei com tudo que descobri de mim, nessa forma sistêmica. Tenho tentado continuar nesse processo.
Qual o significado da escrita, para você?
Escrever me liberta. É mais que uma possibilidade, é palpável, é concreto. Costumo dizer que escrevo para não sufocar, escrevo para não explodir em mim, ou… Exatamente, para isso.
Quais suas expectativas com o livro?
Não sou de grandes expectativas. O que me faria absurdamente feliz seria atingir as pessoas, sabe? Anfêmer(a) fala de muita gente, e ter esse elo, senti-los perto, através do livro, seria incrível!
O que esperar e o que não esperar do seu livro?
Podem esperar encontros, perspectivas, frustrações, espera, fome, vontades, dor… em forma de poema, crônicas, relatos. A ideia é oferecer minhas aflições. São meus desabafos, da paixão ao abandono, e do (meu) mundo livre, trazendo no livro em si um movimento político a respeito de liberdade e pertencimento. Não espere o idílio, não vai rolar. É real, às vezes cruel, mas é amor… Na maioria das vezes, um amor só. E vale total a pena!