“Tem uma luz acesa no seu apartamento”. Falei a frase gentilmente, pensando que, talvez, a vizinha achasse que o assunto não era da minha conta. A fama dela no prédio não era das melhores… Pouco sociável, não mostrava nenhum esforço para tentar conviver com os moradores no condomínio.
As crianças aguçavam ainda mais as histórias sobre ela. O cabelo grisalho e comprido parecia com os de uma bruxa. Algumas juravam que a tinham visto circulando à meia noite, ao redor dos prédios. Crianças e sua imaginação adubada.
Ela se virou para mim e respondeu com o olhar distante:
– A lâmpada tem vida própria. Ela acende e apaga conforme meu estado de espírito. Hoje está acesa porque a escuridão habita minha alma.
Lentamente, se virou e entrou no apartamento, deixando-me com os pés pregados no chão, ao lado do elevador.
Por Elsa Timm
Texto integrante dos exercícios literários propostos pela Pragmatha Editora em suas redes sociais aos domingos