A sorte

O presente chegou com cinco anos de atraso, tempo exato em que o irmão lhe enviara aquele amuleto mágico tibetano de Lhasa. Era uma bela pulseira de contas de madeira trabalhada, com um rabicho de fios vermelhos de seda. Naquela época estava mesmo precisando de sorte. Enfrentava uma fase de turbulência com a Joana e seu emprego andava por um fio. Joana logo o trocou pelo amigo João e, na cambulhada, perdeu os dois. No trabalho, estava por um fio e foi despedido, mas conseguiu outro emprego, uma chefia na área de transmissão de dados. Ainda bem, a empresa anterior faliu logo. Depois conheceu a Ritinha. Lindinha. Queridinha. Tudo bem certinho com ela e nela. Tipo mignon e sorriso de covinhas bem-posicionadas. Sem falar o resto. Pois bem, trocou os dois por uma, e ainda ficou com o troco, riu-se. Desse jeito, pensou, devolvo a pulseira para o Tibet. Imagina se o amuleto trouxer de volta João e Joana; ou se o empurrar para a recontratação pela empresa falida? Saiu correndo e alcançou o carteiro. Disse que a pessoa não morava mais ali e que abrira o pacote por engano. O carteiro a contragosto aceitou e levou tudo embora. Isso, melhor sem essa sorte.

Por HB Ribeiro

Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.br