Simpósio

Desde que foi a São Paulo, Maria nunca mais foi a mesma. Poderia se dizer até que aquela que voltou era outra Maria. Vivia com o olhar distante, prescrutando o horizonte, e custava a se dar conta quando lhe perguntavam algo. A Maria atenta, secretária eficiente, dinâmica e inteligente, havia se perdido pelas ruas de Sampa.

Os companheiros de trabalho foram os primeiros a perceberem a mudança. O chefe não queria falar sobre o assunto. E os mexericos começaram a se espalhar.

Teria Maria sofrido algum trauma? O chefe teria abusado dela? Teria sido assaltada em plena avenida Paulista?

Ou, como Caetano, alguma coisa aconteceu no seu coração quando cruzou a Ipiranga e a avenida São João? Será que, igual a ele, quando chegou por lá, nada entendeu da dura poesia concreta que a tudo engole? Será que foi uma história de dor e poesia que transformou Maria, agora uma quase zumbi?

Ninguém sabia. E todos tinham dó de Maria. Rodeavam Maria de atenções e nada. Talvez por um instinto de proteção aos fracos, todos os homens da empresa se deram conta do quanto Maria era bela. Ou seria sua cara de tonta que despertava neles essa vontade de estar com ela, de paparicar, ganhar sua confiança e algo mais?

E Maria nem aí pra eles. Aceitava os bombons, os cafés e outros presentinhos, mas de resto, os ignorava. E, verdade seja dita, ainda que eficiência não fosse mais o seu forte, Maria seguia sendo empregada da Lauffer&Liftter Corporation. Quase uma peça decorativa na antessala do diretor, assessorada por outra secretária, essa sim, bastante eficiente, do jeitinho que Maria era antes de ir a São Paulo.

Hoje correu boato de que no mês que vem haverá um novo simpósio em São Paulo e que a empresa deverá enviar representante. Será a vez da nova secretária acompanhar o diretor?

Por Cleia Dröse

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.br