Serviço

Um cão enorme guardava a porta e não parecia gostar de minha presença ao portão. Não havia campainha e nem um sinal de pessoas na casa. Contornei a rua, verificando o muro alto de tijolos à vista, buscando uma segunda entrada. Inútil, não havia portão na lateral da casa. Eu teria que pular, mas havia uma concertina sobre o muro, o que tornaria bastante perigosa qualquer tentativa de entrar. E, mesmo assim, ainda poderia ser percebido pelo animal, e teria de escalar de volta. Definitivamente, não era a melhor opção naquele momento.
A casa ao lado parecia estar vazia, e o acesso era muito mais fácil. Era um simpático chalé bem cuidado, com um portão baixo e sem cadeado, e aparentemente não havia ninguém morando, tampouco cães para me atacarem. Mas seria muito estranho invadir uma residência para chegar em outra, então fiquei um tempo pela rua, voltei ao carro duas ou três vezes, esperando que alguém entrasse ou saísse, mas pelo jeito não havia ninguém mesmo ali.
Era inverno, e sempre os dias são mais curtos. Logo iria escurecer, então seria mais fácil passar pelos quintais sem ser percebido. Então, logo que o sol se pôs, a rua ficou deserta. Esgueirei-me pela beira dos muros e entrei na casa ao lado. Um gramado bem cortado seguia da frente pela lateral, até uma garagem aos fundos. Era a minha chance de passar para o outro lado com uma certa segurança.
Subi na garagem e levei a escada articulada comigo, para facilitar o trabalho. Dali, pude alcançar o telhado da casa da esquina, e podia observar os movimentos do cachorro. Havia uma cerca no quintal, o que impedia que ele chegasse ao lado direito da casa, exatamente onde eu poderia descer. Abri a escada, desci calmamente e procurei a caixa de energia.
O acesso estava bastante danificado, felizmente eu havia levado todo o necessário. Retirei a chave velha e coloquei uma nova, também recoloquei uma fechadura, para dar mais segurança. Religuei o disjuntor, e pude ver que uma luz clareou a sala da casa. Haviam deixado ligada, certamente.
Voltei pela lateral, e dela pelo pátio do vizinho. Levei minhas ferramentas para o carro e dei por encerrado meu trabalho. Última ordem de serviço entregue. Amanhã, quando os proprietários chegarem, sua energia terá sido restabelecida. Fui pra casa feliz, com a sensação de mais um dia de dever cumprido.

Por Romario Krug

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br