– O senhor poderia dar licença?
Hum. O senhor era eu, descobri com certa descrença.
Quando virei senhor? Digam-me por favor.
O tempo passou e eu não senti, nem vi, virei senhor e não percebi.
Não apenas senhor dos meus atos e sim senhor registrado na imagem dos retratos.
O corpo acumula equívocos e deslizes, rugas, marcas e cicatrizes.
Sim, senhor, com muita bagagem e história, bastante espaço acumulado na memória.
Nem notei direito a saída da adolescência e já estou na obsolescência, será que veio de brinde alguma sapiência?
Será que o espelho me enganou ou eu me enganei? Fingi não perceber ou realmente não notei? Sinceramente, não sei.
Não registrei o espaçamento das saídas, as pernas mais doloridas, algumas leves esquecidas.
O que ontem era futuro agora já é passado, não acompanhei esse ritmo acelerado.
Os anos começam a pesar, a visão a levemente falhar, mas a cabeça não deixa de sonhar.
Um adolescente em mim ainda habita, um jovem orbita, o adulto hesita e todos juntos afirmam que a vida é indiscutivelmente bonita.
Sou todas as fases em uma só, presas e atadas em um irremovível nó; desculpe, mas não dou licença, vou à frente, tenha dó!
Por Leonardo Andrade
……..
Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br