“Sempre vivi num mundo paralelo entre o real e o imaginário”

Aos 80 anos, a escritora Helena Heloisa Manjourany Silva está fazendo sua estreia solo no universo literário, com a publicação de “As brumas de Pelotas”. A editora escolhida foi a Pragmatha e nesta entrevista a autora fala sobre como a obra, que reúne contos e crônicas, foi se construindo ao longo do tempo e seu significado.

Quem é Helena Heloisa Manjourany Silva?
Sou natural de Pelotas, cronista, contista, historiadora. Professora de História e Educação Artística. Comecei a publicar somente em 2010. Sou colaboradora do Diário Popular e do Diário da Manhã, participo de coletâneas, entidades literárias e recebi alguns prêmios. E conselheira do segmento de iteratura no Conselho Municipal de Cultura de Pelotas.

Como surgiu a ideia de “As brumas de Pelotas”
Ela não surgiu; acredito que sempre esteve presente. Fui uma leitora compulsiva, devorava desde as fotos novelas, aos livros históricos. Sempre vivi num mundo paralelo entre o real e o imaginário. Escrever um livro fazia parte do meu dia a dia.

Foi quanto tempo de dedicação até ele ficar pronto?
Na real? Desde a primeira crônica publicada em 2011, quando adquiri meu primeiro notebook, só fui aprendendo a digitar e arquivando. Sofri o maior perrengue, o computador me dava de 10 a zero.

Como é sua rotina de escrita?
Bem, difícil explicar. Os caderninhos de anotações sempre existiram. No trajeto de ônibus, intervalo de aulas, qualquer momento de isolamento. Quando os filhos adormeciam. Depois a vida foi complicando, os momentos solitários foram desaparecendo. Quando a inatividade chegou, eles retornaram a qualquer hora. Mesmo quando o sono não vem.

Quais foram os maiores desafios durante esse trabalho?
Quando não nascemos com o dom de escritora, apenas a necessidade de escrever, de contar história, são muitos os desafios. Transformar o cotidiano em algo irreal, olhar através da luz e sombra que a bruma produz e visualizar ninfas, romance e o amor eterno. Muitos desafios…

Quais suas principais fontes de inspiração?
Minha principal fonte foi o escritor e poeta pelotense Jorge Salis Goulart. O amor verdadeiro em seus livros foi o alimento da minha alma. Em seus textos encontrei o irreal e o real entrelaçados. Segundo a Mestra Griô Sirlei Amaro, sua capacidade de fazer da memória a maior fonte para ser uma contadora de história. Também fez história em nossa cidade. No entanto, a vida foi a minha maior inspiradora.

O livro pretende deixar alguma mensagem aos leitores?
Longe de mim ter a pretensão de interferir na opinião do meu leitor, mas se ele ama viver, gosta da mistura de luz e sombra, tenho a certeza de que verá através das brumas de Pelotas a empatia, o amor e a resistência de uma mulher que aos oitenta anos tem a coragem de lançar seu primeiro livro.

Por que “Brumas de Pelotas”?
Pelotas é considerada, por alguns, como a Londres brasileira, devido ao nevoeiro que a cobre, principalmente ao amanhecer. Em alguns dias, sua teimosia é tanta que só sucumbe perante fortes raios do sol. Nevoeiro, neblina, cerração ou bruma? Tanto faz! Quando desce sobre a cidade tal qual um manto protetor, tudo parece fantástico.

O que significa para você a publicação desta obra?
No entardecer da minha existência, meu último desafio. Amei conheci o amor verdadeiro, tive filhos, netos, plantei árvores. Faltava o livro.