Revoltas sazonais

Um cão enorme guardava a porta; ontem era um tigre, amanhã talvez uma onça, o nome do obstáculo pouco importa.

Sei que eles não estão ali de verdade, mas o bloqueio emocional é uma realidade e impede minha liberdade.

Os piores grilhões são invisíveis, praticamente intangíveis e para removê-los não tenho ferramentas disponíveis.

Sinto-me aprisionado, pressionado, encurralado e subestimado.

Limitado por regras que não fiz, por normas que nunca quis, por sentenças de um louco juiz e por efêmeros e fugazes traços de giz.

Penso em fazer um discurso, entrar com um recurso ou até mesmo tentar outro percurso.

Fico postergando, dizendo que ainda é cedo, mas posso te contar um segredo? Acho que, no fundo, tenho medo.

Os limites que impedem a fuga, fazem o mesmo com a entrada, aqui, minha segurança está assegurada e minha vida resguardada, mesmo que às vezes pareça desperdiçada. Novamente meus questionamentos e minha cíclica rebeldia não dão em nada. 

Sair do cais é perigoso demais, prossigo ancorado convivendo com inócuas revoltas sazonais.

Por Leonardo Andrade

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br