Resenha: Embarcando no Fusca Amadinho

Por Jairo Schol Costa

Nestes tempos duros, onde amor, solidariedade e compaixão estão como fugitivos em nossa sociedade, escondidos nos ermos das almas ou simplesmente banidas de nossa tão propalada civilização, eis que surge um livro, uma verdadeira fábula escrita pelo estreante nas letras Rodrigo Seefeldt e seu intitulado “As Aventuras do Fusca Amadinho”.

O livro encanta desde o início, pois a história é contada pelo próprio fusquinha. É impossível não perceber que se trata de uma sutil metáfora da vida. Ele um carrinho já velho, pneus arriados, condenado ao ostracismo e habitat de uma família de roedores, se encontra em seus derradeiros momentos.  Exatamente como são nossos idosos nesta sociedade de consumo e aparência, onde a desenfreada busca pelo novo vai jogando às margens das estradas aquilo que se considera velho e sem valor. E novamente, numa forte metáfora, os próprios roedores nada mais são do que as dores, enfermidades e mazelas que os afligem.

Mas, num belo dia ensolarado, um jovem se apaixona pelo fusquinha, o resgata de seu inexorável destino de aniquilação consumido pelos elementos, e o traz para o seio de sua família. E ele lá chegando imediatamente é adotado pela esposa e filha do jovem dono do carro, cuja “família de olhos brilhantes” consegue o prodígio de dar alma aquilo que aos olhos dos indiferentes não passaria de metal, vidro e plástico.

E, neste renascer, o fusquinha que cativa à paixão da menina Maria Flor por ela é batizado de Amadinho e daí em diante o fusquinha renovado, autoestima nos píncaros e rejuvenescido pelo amor daquela família, acaba se transformando no grande protagonista dela, os levando a percorrer as estradas da colônia alemã de São Lourenço do Sul ou pelas ruas desta cidade de beleza litorânea ímpar. O Amadinho se transforma num fogoso corcel que carrega a família em todos os momentos de suas vidas. Ora é um baluarte na atividade de seu dono ou devo dizer tutor? Ora é ele quem transporta o Papai Noel nas noites de Natal e na Páscoa leva a Coelha da Páscoa, a Emília em festas infantis e outros personagens mais a todos os destinos, casas de família, abrigos infantis e retiro de idosos.

Por toda a parte passa a ser conhecido e saudado pelos transeuntes. Sua indefectível cor amarela o identifica a distância e logo se incorpora ao patrimônio espiritual da cidade.

E o Amadinho, livre dos roedores, esperanças renovadas, os pneus cheios e o motor à plena força, certamente devido não somente aos hidrocarbonetos do combustível, mas pelo amor de sua família e de sua comunidade se transforma num elemento de ligação entre as pessoas que sequer se conheciam, mas que a partir das aventuras do Amadinho se conhecem se une e se humanizam.

Ler as “Aventuras do Fusca Amadinho” de Rodrigo Seefeldt é dar uma chance à vida, é acreditar que a vida não se resume a acordar pela manhã, trabalhar, pagar contas, ter um breve entretenimento nas telas de cristal líquido e depois dormir, e, tudo se repetir amanhã num eterno looping.  O Amadinho mostra que somos maiores e melhores que isto, que nem todo o dinheiro e glória do mundo ganham sequer um segundo de eternidade. Enfim, que é possível sonhar, que é possível com sonhos sonhados com muitos outros alcançarem um mundo mais solidário, fraterno e humano. 

E, sobretudo, aprender que o que realmente move o mundo é o amor, que transforma o aço e a borracha em vida, e para tanto basta o tamanho de seu coração e a força de seu ideal.

Jairo Schol Costa é advogado, pesquisador e escritor integrante do CEL – Centro de Escritores Lourencianos.

Para adquirir o livro, combos e demais informações em (53) 984678816 / 98441.4947 e instagram @fusca_amadinho e Pragmatha Editora.