“Tem uma luz acesa no seu apartamento. Daqui posso ver. Está me ouvindo?”
Este foi o recado que deixei no celular de Victor naquela madrugada fria no inverno passado. Ao acordar percebi, através da imensa janela do meu apartamento, a prova de que ele não estava viajando. A nossa relação “moderna”, de dez anos, conferia essa possibilidade, pois, como decidimos morar separados, mas próximos fisicamente, não tivemos o cuidado de afastar a vista que teríamos um do outro.
A fragilidade com que eu vinha vivendo com Victor foi escancarada naquela madrugada. Nada mais havia a ser dito, reconsiderado ou reconstruído.
O vulto com cabelos longos selou o fim de um amor que nunca deveria ter acontecido.
Um ano se passou e eu nunca mais ousei olhar para aquele ângulo.
Por Rosalva Rocha
Texto integrante dos exercícios literários propostos pela Pragmatha Editora em suas redes sociais aos domingos