Quatro motivos para escrever e publicar

Outro dia estava preparando uma breve palestra sobre o mercado editorial, para apresentar aos associados e convidados da Associação Literária de Campo Bom, e entre um café e outro me pus a pensar que impulso é este que nos leva a escrever. Afinal, o Brasil é um país que lê pouco, as políticas públicas de promoção da leitura pecam por inconsistência e o mercado é muito fragmentado, deixando autores e pequenas editoras por sua conta e risco. Inclusive, brinca-se que é um país que tem mais escritores do que leitores.

Mas, por outro lado, existem muitos pontos onde a literatura brota e se desenvolve com viço e brilho. São Lourenço do Sul/RS, Capanema/PA e Santo Antônio da Patrulha/RS são bons exemplos. A produção é regular e intensa, a publicação também, e pipocam cá e lá os eventos literários. Então lembrei de cada diálogo que tive com os escritores aqui da Pragmatha e analisei quatro razões que considero primordiais e que justificam, pelo menos em parte, o sucesso da literatura na cena independente brasileira. Vejamos:

Corre um conselho, entre amigos e familiares de escritores, de nunca os incomodar, sob pena de serem transformados em personagem e sofrer as maiores consequências. Brincadeiras à parte, essa é uma das delícias de escrever. Na folha de papel ou tela do computador, podemos (praticamente) tudo. Não há limite para a criatividade e atuar sem as fronteiras do real, dando asas à imaginação, é também fator de saúde mental.

Com alguma frequência aqui na Pragmatha surgem escritores com obras biográficas. E algumas chamam bastante a minha atenção. Lembro de um livro que reunia as memórias de infância e adolescência do autor, porque queria que seus netos e bisnetos soubessem como foram os seus primeiros anos de vida. Falava das brincadeiras, da paisagem, dos veículos que a família tinha. Das empresas que funcionavam no bairro e que sucumbiram às crises econômicas. Relatava como eram os momentos de lazer, os estudos, os deveres. O autor tinha a certeza de que se tratava da melhor herança que podia deixar. E eu concordo.

A pandemia de covid-19 foi uma experiência marcante para as gerações atuais. Houve muita dor, preocupação, desinformação, luto e medo da morte. Com a necessidade de ficar em casa, muitas pessoas se aprofundaram ou conheceram o contato verdadeiro consigo mesmas e com a literatura. Alguém já escreveu, certa vez, que tempos ruins são bons para os livros. E a prática da escrita criativa possibilitou lidar um pouco melhor com toda uma realidade externa bastante difícil. A verdade é que quem escreve está sempre acompanhado, seja de seus pensamentos, seja de seus personagens. E isso qualifica o tempo vago. Escritor está (mesmo que mentalmente) sempre ocupado e são bem poucos os diagnósticos de tédio.

Escrever costuma ser um ato solitário, basicamente porque exige concentração e foco. Por outro lado, compartilhar o que se escreve pode ser um grande evento. Existe uma magia no encontro entre dois ou mais escritores. Rapidamente são identificadas afinidades. Grupos de escritores têm o potencial de aproximar pessoas com interesses em comum e o acolhimento é uma das marcas mais presentes. Escritores se entendem em suas loucuras.

Se perguntarmos aos escritores sobre por quê escrevem, provavelmente a resposta mais sincera será também a mais simples: “porque gosto”. E se perguntarem a nós aqui da editora por quê trabalhamos com literatura, a resposta é a mesma. Por isso tratamos com tanto carinho cada publicação. Esta tribo está sempre aberta a novos integrantes que amem livros, literatura, escrita criativa… Se você está pensando em escrever um livro, ou já começou a escrever e tem dúvidas sobre como funciona, será um prazer conversarmos!