Quando o propósito humaniza e dá norte para os negócios

O escritor Daniel Rodrigues publicou pela Pragmatha Editora a obra “Cultura Inovadora Humanizada – Os pilares para construir uma cultura inovadora de brilho nos olhos!” Nesta entrevista, ela fala sobre o primeiro dos pilares, o propósito.

Muito tem se falado sobre propósito, que você apresenta como um dos pilares da inovação humanizada em empresas. É um tema atual?

É um tema bastante antigo. O propósito está presente já na filosofia dos estoicos, na Grécia antiga. O tema ganha uma força novamente mais recentemente por um motivo muito claro, a evolução social pela qual estamos passando. O propósito busca maior consciência nas nossas atitudes, na nossa vida. Está muito ligado a essa onda de sustentabilidade e capitalismo consciente. Além disso, convida a fazermos escolhas alinhadas aos nossos valores. Nesse sentido, é um tema atual e importante, já que a inovação tecnológica trouxe também a oportunidade de nós, humanos, trazermos o humano de volta para o trabalho. Tudo que era automatizado foi robotizado, atualizado por sistemas, e tem se exigido do ser humano cada vez mais suas qualidades e características humanas. O propósito entra como uma força essencial para podermos nos concentrar com o nosso porquê do trabalho.

O que é, afinal, o propósito?

É vida. Falar de propósito é falar sobre a vida. O propósito é o que vai nos ajudar a desviarmos das distrações. Quando temos um propósito claro e firme, dispomos também de um norte bem definido, conectado com nossa essência: por que estamos aqui, como queremos levar nossa vida, por que acordar todo dia para trabalhar, para trabalhar naquilo que nós trabalhamos. Na liderança, a partir do propósito, conseguimos engajar pessoas em algo que é maior do que as rotinas de um cargo, tarefas. Impacta nas escolhas, escolhas verdadeiras, refletidas, aprofundadas, conscientes, que vão se estruturar como pilares na empresa. Não é modismo, onda. É realmente buscar uma forma de estruturar a nossa forma de ser. Quem é essa empresa, o que ela defende, por que ela existe? Falar de propósito é falar sobre o ser, uma dimensão que ficou muito tempo fora do corporativo, mas que tem sido cada vez mais importante nesse contexto de inovação e ruptura.

Posso ter uma vida profissional satisfatória sem conhecer meu propósito?

Sempre é uma régua individual que depende dos critérios que cada um adota para avaliar sua própria satisfação. A gente diz que todo mundo nasce com propósito e vai descobrindo, ampliando a consciência sobre ele ao longo da vida. Não é muito problema se pessoa não tem clareza plena sobre seu propósito. Há pessoas com níveis menos conscientes e mesmo assim estão satisfeitas. Quando a gente não tem tanta clareza, pode passar uma vida toda satisfeito e tudo bem. O problema é quando a gente passa a não estar satisfeito e sem a clareza. Neste contexto, não há força para entender de onde vem satisfação, conexão, e como se reconecta. Isso não significa que conhecer o propósito automaticamente trará uma vida satisfatória. Ele vai dar um norte, forças, para perseguir e usufruir desta satisfação em nível profissional. Aumentam as chances de satisfação e quando se encontra no trabalho uma forma de manifestar o propósito. É um movimento de fluxo energético, uma força gigantesca para superar desafios, obstáculos, problemas. É um movimento de vida. Por isso que o propósito é o pilar número 01, estruturante, da cultura inovadora humanizada. Inovar significa lidar com a necessidade de construir o novo, porque o velho não serve mais, deixou de atender ao propósito da empresa, para mantê-la viva e relevante. É uma força bonita e grande para toda a equipe e sociedade que é atendida por esta empresa. Nesta visão, o propósito se torna elemento chave para o sucesso corporativo, profissional, satisfação das pessoas, felicidade. Tanto equipe quanto os clientes.

Como conhecer o próprio propósito, sem fazer desta busca uma fonte de angústia?

Muitas pessoas se colocam na posição de cobrar propósito grandioso, oculto, como se fosse algo de outro mundo. O propósito é simples e geralmente é coisa do coração, da alma. Lembra das brincadeiras de criança, quando não havia cobranças externas? Temos dentro de nós esta chama. E muitos de nós a mantém acesa. Outros, porém, perdem essa conexão, por conta de educação, papeis que precisamos desempenhar ao longo da vida. E nesse movimento de atender às exigências externas, desconectadas com as exigências internas, vai se perdendo a conexão. A chave é o autoconhecimento, que é paulatino. Trata-se de uma jornada. Se a gente escolhe viver uma jornada de maior consciência profissional, maior contato com essência e propósito, é uma escolha que vai nos levar ao longo do tempo a uma clareza cada vez maior do que a gente faz com ele. E pode haver um momento de ruptura e não vai ser angustiante se for desdobramento desta construção e processo. Não é um rompante. Não é uma coisa de um dia pro outro, obrigação de um mês pro outro. É apenas um convite para incluir na jornada essa dimensão de força interior e despertar ao autoconhecimento.

O propósito pode mudar ao longo da vida?

Eu acredito na mudança como algo positivo, como parte desse processo evolutivo. Ela é parte do processo de aprendizagem. É justamente ao longo desse processo que vamos ganhando mais conexão com o propósito. Por outro lado, com autoconhecimento suficiente, conexão com a essência, ele em si muda pouco ao longo da jornada. No caso das empresas percebemos que vai mudando quando geram mudanças nos produtos, serviços, processos… O propósito original acaba muitas vezes perdurando por muito tempo. Ele muda quando passa a não fazer mais sentido, dependendo da longevidade do negócio ou do gestor. Nas nossas jornadas, o propósito maior tende a ser mais forte e mudar menos, mas vão acontecendo descobertas, propósito menores, com P minúsculo, que podem ir mudando. Esse propósito como força motriz do nosso desempenho tende a ser mais estável e até dar bastante equilíbrio para o todo. Se tudo mudasse o tempo todo, até o propósito, ficaríamos perdidos. O propósito é eixo estruturante e dá equilíbrio e força em um cenário disruptivo, estabilidade e força inclusive para abraçar a disrupção e trazê-la para nosso mundo.

Para conhecer a obra, acesse: https://pragmatha.com.br/produto/cultura-inovadora-humanizada-os-pilares-para-desenvolver-uma-cultura-inovadora-de-brilho-nos-olhos/