A escritora Cleia Dröse inicia 2022 com um novo projeto literário. “Luas de Saturno” reúne poemas e terá publicação pela Pragmatha Editora. Nesta entrevista, a autora fala sobre a iniciativa, fruto de seus sentimentos e inquietações existenciais.
Como surgiu a ideia do livro?
Os poemas constantes na obra Luas de Saturno são frutos de uma fase muito intensa em minha vida. Talvez se poderia dizer de uma crise existencial? Quem sou eu? Quem somos nós, neste imenso Universo? De onde viemos? Para onde vão as pessoas amadas, que já não estão aqui?
Há quanto tempo você se dedica a este projeto?
Não sei precisar. Foram meses, entre 2018, 2019, 2020. Quando o peito apertava e as respostas não vinham, os versos diziam (ou sugeriam?) o que ia em meu interior.
Como foi o processo criativo?
De todos os livros que publiquei, talvez este tenha sido o que a rotina tenha sido mais inconstante. Ou seja: não havia rotina alguma. A ideia vinha. O questionamento pulsava na mente. Olhava o infinito. As noites ainda são estreladas onde eu vivo. E me perguntava: aquele ponto de luz é mesmo uma estrela? Ou será um planeta? E meus amados que partiram estarão em um destes pontinhos brilhantes, como costumamos dizer para confortar as crianças? Depois disso, tudo virava metáfora e as entrelinhas diziam mais do que as palavras escritas.
Quais foram os maiores desafios durante esse trabalho?
Lidar com meus sentimentos, com dor e saudade, com a constatação de o quanto somos pequenos e frágeis. E transformar isso em algo universal, não soar como um desabafo, uma queixa.
Quais suas principais fontes de inspiração?
As pessoas. As relações entre essas pessoas. O que vai bem e o que não vai tão bem assim. Talvez seja a obra mais intimista que escrevi, mas talvez este intimismo esteja bem camuflado entre as luas de Saturno.
O livro pretende deixar alguma mensagem aos leitores?
Creio que toda a obra, em especial a obra poética, por ser irmã-gêmea da filosofia e deixa mensagens. Porém, essa não era a intenção quando foi escrita e tampouco agora na fase de publicação. A obra é o que é. Vale por si só. Se alguém retirar uma mensagem destes poemas, fico feliz. Se fizer uma viagem pelas ideias constantes nos poemas, gostar (ou não) e no final nada restar, valeu pelos momentos em que viajou. Mas se vislumbrar os contornos de uma lua de Saturno que seja, estou segura de que nunca mais será a mesma pessoa.
O que significa para você a publicação desta obra?
O arquivo com os poemas está guardado todo este tempo. Neste interim, publiquei dois romances. Eram filhos que tinham pressa de nascer. Mas não esqueci nunca destes poemas especiais. Tinha a sensação de que os havia deixado em uma espécie de cápsula do tempo, aguardando o momento certo de ver a luz. Então, ao decidir que chegou o momento, para mim é como se libertasse um filho frágil que anseia por liberdade. E a liberdade dele é também a minha, pois onde está a obra, está também quem a escreveu.