Pri Ferreira: “Nossos passos, às vezes, são mais lentos, mas a caminhada é adorável, o percurso gratificante e a recompensa, ainda maior”

A escritora da Pragmatha Pri Ferreira foi a patrona da 42ª Feira do Livro de São Lourenço do Sul, realizada em outubro.

Trata-se de uma homenagem e reconhecimento que, segundo a autora, talvez não saiba mensurar. “Fui a primeira mulher negra lourenciana a ocupar esse título, trinta anos após termos, pela última vez, uma mulher negra como patrona, a escritora pelotense Maria Helena Vargas da Silveira. Esse momento será, sem dúvida, inesquecível em minha trajetória e em toda a minha carreira”, afirma.

Pri escreve poesias desde os seus 10 anos, mas por muito tempo viveu um bloqueio. “Diziam que eu copiava meus textos, ou até que eram psicografados. Essas experiências me silenciaram por alguns anos. Mas em 2023, decidi transformar essa dor em força e escrevi o meu primeiro livro, Anaya”.

Foi um momento, segundo Pri, em que colocou em mente um sonho: publicar um livro por ano, e isso vem se tornando realidade. Desde então, realizou palestras, ministrou cursos, atuou com mediação de leitura, organização de eventos literários, escrita criativa, além da contação de histórias do seu livro Anaya.

Seu processo de alfabetização começou cedo, aos 5 anos, com a ajuda da mãe e dos  tios, sendo sempre uma leitora assídua. Nasceu no bairro Santa Terezinha, em São Lourenço do Sul, antiga Vila Santa Terezinha, uma região periférica. “E a Priscila de 5 e de 10 anos jamais imaginariam que, aos 40 anos, ela seria patrona de uma feira do livro.”, garante.

Para ela, esse reconhecimento não é apenas seu, mas de toda a comunidade negra de São Lourenço do Sul, que faz parte da construção e do desenvolvimento do município. “Naquele momento, representei com orgulho as seis comunidades quilombolas, o Movimento Negro Kizumbi, o Grupo Mene (Mulheres Negras), o Grupo de Capoeira Filhos da Roda, o Ponto de Memória e Cultura Quilombo Maria Lina, e todas as religiões de matriz africana da cidade.”

Segundo Pri, não é fácil a caminhada como escritora, especialmente sendo uma mulher negra. “Nossos passos, às vezes, são mais lentos, mas a caminhada é adorável, o percurso gratificante e a recompensa, ainda maior. E não falo de dinheiro.”, conclui.

7/11/25