O escritor Luiz Eudes publicou, pela Pragmatha Editora, o livro “A noite dos ciganos”. A obra faz um passeio, em prosa literária, pelos usos e costumes de um dos povos mais antigos. O prefácio é de Adailton Andrade. Confira:

Viva o povo cigano!
Adailton Andrade
A história dos ciganos no Brasil ganha mais um trabalho no terreno da pesquisa, com um toque de novela. Trata-se de A Noite dos Ciganos, do baiano Luiz Eudes. Ao ler, já me mostrou bastante fôlego e vocação para a escrita.
A noite dos ciganos, uma pesquisa rica em detalhes e muito bem dissertada, começando com uma epígrafe usando das palavras de Jorge Amado em Tocaia Grande, onde o célebre escritor, também baiano, declara preferir “viver com uma cigana a nos conduzir pelo mundo sem pátria e sem Deus. Adoro os ciganos, mesmo porque sou um cigano intelectual”.
Luiz Eudes nos conta que, quando a comitiva cigana se afastava, as melodias e os ritmos ainda ressoavam no ar, perpetuando a magia daquela que seria lembrada para sempre como a noite dos ciganos, e finaliza sua obra descrevendo que como histórias vivas, as músicas contando coisas de amor, saudade e busca. E todos aqueles que as ouviam sentiam-se envolvidos na narrativa. A noite dos ciganos tornou-se uma experiência inesquecível para a cidade, uma celebração de música, dança e cultura que tocou profundamente os corações dos habitantes.
Os ciganos têm uma longa história no Brasil, com suas tradições, cultura e contribuições para a sociedade. Fazem parte da diversidade étnica e cultural do nosso país, trazendo consigo costumes, danças, músicas e artesanato únicos. Sua presença é especialmente marcante em regiões como o Nordeste, o Sudeste e o Sul.
Aqui em Sergipe conhecemos a obra Ciganos, da escritora Luzia Nascimento, da Academia Sergipana de Letras, que descreve cultura, magia e globalização. Também recordamos que já houve em Sergipe uma escola específica para a comunidade cigana, implantada pelo Governo do Estado, por intermédio do então secretário de educação e cultura Luiz Antônio Barreto.
No nordeste do Brasil, a presença dos ciganos é historicamente significativa, pois contribuíram para a rica diversidade cultural da região, trazendo consigo suas tradições, músicas, danças e artesanato, e é isso que vamos encontrar em A Noite dos Ciganos, narrativa dividida em treze capítulos que prende o leitor em uma leitura leve, suave e envolvente, que retrata a chegada e a partida de um bando de ciganos em uma comunidade e de como muito influenciou em cultura e costumes. De forma geral, os ciganos influenciaram na moda, na música, na culinária e foram tema de novela televisiva.
Sabemos que existem diversos estudiosos e pesquisadores que se dedicam ao estudo da cultura cigana, tanto no Brasil quanto em nível internacional. No contexto brasileiro, entre os acadêmicos renomados que contribuíram para o entendimento da cultura cigana citamos Marcos Paulo de Oliveira, Martinho Junior e Maria Luiza Tucci Carneiro, que realizaram estudos aprofundados sobre a história, as tradições e os desafios enfrentados pela comunidade cigana no país. Esses pesquisadores oferecem insights valiosos sobre a preservação da identidade cultural cigana e as questões enfrentadas por esse grupo étnico.
Luiz Eudes entra para esse seleto grupo de pesquisadores com sua novela prenhe de riqueza de realismo, em narrativas factuais, com leveza nas expressões da escrita. Sendo assim, A Noite dos Ciganos se soma e contribui para a diversidade cultural de um povo esquecido e por muitas das vezes marginalizado. Os ciganos em Sergipe, bem como em todo o país, buscam manter suas tradições e história única dentro da rica tapeçaria cultural do estado e do Brasil, agregando à riqueza cultural, proporcionando uma perspectiva única.
A música cigana, em particular, tem influenciado muitos gêneros musicais e é conhecida por sua paixão e expressividade, e, sem dúvida, essa obra nos faz pensar o quanto esta gente contribuiu e contribui para nossa história e para a memória e identidade cultural.
Com uma história rica e fascinante, que remonta há séculos, originários do noroeste da Índia, acredita-se que tenham migrado para a Europa por volta do século IX. Ao longo dos anos, os ciganos enfrentaram discriminação, preconceito e perseguição em muitos países, o que resultou em desafios significativos em termos de integração social, acesso a oportunidades educacionais e econômicas e igualdade de direitos. No entanto, sua história é complexa e diversificada, refletindo a riqueza da experiência humana. Com sacrifício e resiliência, preservaram suas tradições culturais únicas, levando sua jornada a influenciar muitas culturas ao redor do mundo.
Viva o povo cigano!
Adailton Andrade é Historiador e presidente da Confraria de História e Memória. São Cristóvão (SE).
25/06/25