Por um triz

            A água começou a bater na cintura. Sophia olha para os lados; ela sabe que não terá salvação. Aquele cruzeiro era o sonho da vida dela, economizou tudo que podia para realizá-lo. E realizou. Não podia ficar triste. Até lembrou de Rose, do Titanic, mesmo que ali ela não tenha conhecido nenhum Jack, mas tudo bem. Foram derramadas muitas lágrimas na trágica história. Uma bela história de amor — pensou. Mesmo que tenha sido ficção, muitas pessoas pensaram que havia acontecido, que a Rose e o Jack existiram. Eles não existiram, mas isso não tem importância, outros casais já tiveram suas histórias ceifadas, não da mesma, mas de alguma forma, ou quem sabe no próprio Titanic de 1912, muitas pessoas perderam suas vidas.

            A água continua subindo, Sophia escuta gritos abafados, ela está em sua cabine. De repente ouve um estrondo maior. Agora é o fim, não adianta sofrer, o jeito é se entregar — pensa — fecha os olhos, quando sente seu corpo sendo sacudido. Escuta alguém gritando:

            — Ela está viva, cuidado.

            Sophia tenta abrir os olhos, mas não consegue, sente que está sendo sacolejada. Ouve gritos, consegue abrir os olhos, mas logo tudo escurece.

            — Doutor, ela está bem?

            — Sim, ela está…

            — Aonde estou?

            — Minha filha…

            — Ô mãe, a senhora aqui, o que aconteceu? — Sophia fala, chorosa.

            — Calma, calma, está tudo bem — a mãe fala e dá um beijo na testa de Sophia. — Você está sendo atendida pelo doutor Raimundo, da Marinha.

            — Eu pensei que ia morrer, a água estava na minha cintura, e não parava de subir, até lembrei do Titanic…

            — Graças a Deus, você não morreu, mas foi por um triz…

            — Como assim?

            — Depois te conto os detalhes, minha filha — sua mãe ajeita o cobertor — Agora descanse. Foram muitas emoções.

Por Giovana Schneider

  • Texto integrante dos exercícios literários propostos pela Pragmatha Editora em suas redes sociais aos domingos