Plural


Caminhava só, quando sentiu um toque no ombro, foi um assombro em meio a tanto escombro.

Pensava estar totalmente isolado naquele cenário deteriorado e deparou-se com alguém ao seu lado.

Era uma visão inexprimível, não era tangível, mas estava longe de ser invisível.

Estava em dúvida se havia sentido o toque fisicamente ou se o contato tinha sido um truque da sua mente.

Nunca havia se sentido tão solitário, estava enfrentando seu calvário sendo seu próprio adversário.

Lutava com suas ideias e ideais, com a solidão do cais, com as memórias de tempos que não voltariam jamais.

Batalhava com seus fantasmas e demônios que insistiam em lhe assombrar, com as alvoradas que demoram a chegar, com as estradas que insistiam em não terminar.

Jamais tinha sequer um alento, nem quando duelava com incontáveis moinhos de vento, confrontos intermináveis em seu pensamento.

Sobrevivente de tantas batalhas, catador incondicional de migalhas e ainda operativo após inúmeras falhas.

A mão no corpo que sentiu foi um sinal, não exatamente natural da sua presença plural.

Outra versão de si mesmo era sua companhia, um acréscimo a sua geografia, um múltiplo seu para o dia a dia.

Ele agora sentia pulsar a força de todas as suas versões, a convergência de suas visões, a união de suas partições.

Não era mais um apócrifo grão e sim uma duna em movimento no deserto, completo, com todas as suas partes, o sucesso mais que estava perto, era certo.


 

Por Leonardo Andrade

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br