A arte é refúgio contra a concretude da vida e a literatura ficcional, por definição, é o campo de todas as possibilidades. E se pudéssemos ser um personagem, qual seria? Fizemos essa pergunta aos autores do Caderno Literário Pragmatha. Confira:
Rita Queiroz – Gostaria de ser Tereza Batista, personagem do livro de Jorge Amado intitulado “Tereza Batista cansada de guerra”. Apesar de Tereza ter sofrido muito, desde a infância, quando ficou órfã e foi vendida pela própria tia, ela é sinônimo de força, de coragem, de exercer a sororidade, mesmo quando não se falava nessa palavra, pois ajudou as prostitutas e juntas fizeram a greve do balaio fechado. Tereza é sinônimo também de superação. Por tudo isso, é uma personagem que gostaria de ser.
Leonardo Andrade – Sem dúvida Julián Carax, personagem do inesquecível “A sombra do vento” de Carlos Ruiz Zafón. O livro é uma homenagem a todos os livros e a todas as pessoas que fazem a magia da leitura acontecer, desde os autores aos livreiros. É um dos melhores livros que já li e Julián Caráx é um personagem genial, místico, ambíguo e absolutamente fascinante. Poderia citar também Daniel Sempere, deste mesmo livro, que amadurece e tem uma jornada arrebatadora, cheia de encontros e desencontros numa deslumbrante Barcelona da década de 1940. Estive em Barcelona em fevereiro de 2020, pouco antes de estourar a pandemia, e confesso ter procurado Julián Caráx entre as sombras e ruelas no bairro gótico da deslumbrante cidade.
Marcelo de Oliveira Souza – Gostaria de ser O Menino do Dedo Verde, pois transformaria o nosso meio em um mundo melhor.
Rosa Acassia Luizari – Eu gostaria de ser a Capitu. Imagino como seria a análise atual da função e do efeito das palavras e expressões utilizadas pela personagem no que se refere à ideia de traição. Se estivesse no texto de Machado de Assis, o ponto de vista de Capitu a respeito do assunto, provavelmente o direcionamento da polêmica argumentação assumiria nuances diferenciadas.
Marcelo Moraes Caetano – Eu gostaria de ser a Emília, do Monteiro Lobato. Uma “pessoa” criada sem nenhum entrave social (nem pai, nem mãe), feita dos mais surrados retalhos, que entretanto se transforma numa personalidade satírica a todas as formas de hipocrisia da sociedade, ensinando esse modo de ver o mundo primeiramente às crianças que a seguem: Narizinho, Pedrinho e todos nós, os leitores. Emília é a redenção do monstro de Frankenstein.
Angeli Rose – Gostaria de ser Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, porque tenho curiosidade em experimentar a construção do amor revelado, para além da realidade em ficção, naquele mundo masculino, contraditório e sutilmente codificado tão intensamente pelo autor. E como magnificamente cantou Antônio Nobrega sobre o “romance” de Riobaldo e Diadorim: “minha incontida sangria..
Marilu F Queiroz – O meu personagem predileto é o detetive belga Hercule Poirot, dos contos policiais da Agatha Christe. Ele aparece em quase todas as suas histórias e o que mais me chamava a atenção era a sua perspicácia ao usar da psicologia humana, se colocando no lugar do criminoso e antevendo seus passos com uma clareza, que me intrigava e empolgava. Gostava de tentar encontrar o criminoso junto com ele.
Otávio Reichert – Gostaria de ser o Capitão Rodrigo, do livro de Érico Veríssimo. Porque o personagem é destemido, com aura superior, embora por vezes não seja exemplar.
Lin Quintino – Queria ser a Sofia de O Mundo de Sofia, uma menina de 14 anos com suas dúvidas sobre a existência. Sou apaixonada por filosofia. Se é uma personagem de algum livro inventada por algum escritor ou se é real, são questões que nos deixam em dúvidas, às vezes.
Branco Almeida – Peter Camenzind, de Hesse. Penso que o autor consegue fazer com que o personagem se insira no sentimento de busca existente em todo ser humano que se atreve ao exercício da vida em sua plenitude. Há no Camenzind uma luta inexata por um encontro igualmente impreciso com as engrenagens que movem a máquina que nos torna uma usina de sentimentos, e essa “coisa” bateu muito forte em mim.
Cecília Maria Pinto Pires – Gostaria de ser uma velha senhora, morando num casarão colonial, num sítio com pomar abundante, com sons da natureza. Porque sinto saudades da placidez da vida campestre, com regatos e campinas amplas, lugar de gente simples e acolhedora. Na pandemia, esse sentimento de uma vida de afetos, sem sinuosidades, floresceu mais em meu espírito.
Antonio Marcos Bandeira – Amo o João Grilo, do Auto da Compadecida. Gostaria imensamente de interpretá-lo. Já vivi outros, que também adoro, como o Zé do Burro, o Pagador de Promessas de Dias Gomes. Mas viver João Grilo seria(rá) minha realização. Sua verve, perpicácia e esperteza me fascinam.
Paulo da Cruz Freire dos Santos – São tantos personagens impactantes que torna-se difícil escolher um, mas eu ficarei como Sherlock Holmes, o detetive criado por Conan Doyle. O que me agradou em Sherlock Holmes foi a sua capacidade de ver o que os outros não conseguiam enxergar. Como a atividade que mais me atraiu durante a minha vida profissional foi a de pesquisador, observar e ver o que não era visível para outros, isso me aproxima do personagem.
Rosalva Rocha – Gostaria de ser a própria autora, Tatiana Rolim, na sua autobiografia Meu andar sobre rodas. A sua simplicidade, força e propósitos me surpreenderam e ele, o livro, nunca mais saiu da minha cabeceira desde a primeira leitura. Tatiana não levanta bandeiras, não grita para o mundo ouvir; ela simplesmente passa a mensagem de que é possível olhar positivamente muito além de uma tragédia. Livro simples, pequeno com mensagem grande.
Tainara Cezar – Com certeza eu seria Elizabeth Bennet, a protagonista de Orgulho e Preconceito, livro de Jane Austen. Elizabeth reúne tudo que mais gosto em uma heroína: ela é fiel aos seus sentimentos, não se curva às expectativas dos outros sobre si, é apaixonada pela vida e sabe a hora de pedir perdão. Além de tudo, é uma romântica incurável que mesmo em 1813 só aceitava se casar se fosse pelo mais arrebatador amor, e não pelas convenções sociais e negócios.
Marcus Hemerly – Voltando o olhar para uma miríade de personagens fascinantes que emergem no cenário literário, decerto, não é tarefa fácil eleger apenas um, dentre um cânone robusto. Tenho especial predileção pelo imortal detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes. O que atrai no personagem, além de suas deduções brilhantes, é sua psiquê complexa e obsessiva, que capta os mais singelos e – aparentemente – irrelevantes detalhes, que resultarão na resolução de um caso. Realmente instigador e intrigante.”
Jeane Tertuliano – Gostaria de ser a Elizabeth Bennet, do romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Simplesmente porque me identifico com sua personalidade, gostos e anseios.
Isabel C S Vargas – Pensei bastante para escolher um personagem e decidi por um personagem emblemático para nós, gaúchos. Fico com o forte, destemido, aguerrido e bravo Capitão Rodrigo da saga de Érico Verissimo.
Roselena de Fátima Nunes Fagundes – A personagem literária mais marcante foi Ana Terra, de Érico Verissimo. Uma mulher gaúcha de personalidade forte e livre. Luta por si mesma, pelo que acredita e ama, pela família e pelo pago. Assim são as minhas mulheres antepassadas, mulheres gaúchas da campanha oeste com esta mesma garra, beleza e tenacidade.