Passagem de ida

O ônibus chegou. Marinalva se levanta e se aproxima. Sua bagagem se resumia a uma sacola da mercearia de seu Joaquim. O relógio na parede marcava meia-noite. Vila Recanto estava adormecida. Foi uma difícil decisão. Mas agora era uma decisão sem volta. Acomodou-se na sua poltrona, próxima à janela. O ônibus começou a se movimentar. Marinalva olhou para as luzes de Recanto, ficando para trás. Seus pensamentos voaram… A voz dele ainda ecoava no seu cérebro. A sua face ainda ardida pelas bofetadas. Como aguentara tanto tempo, perdoando sempre, e nada mudando? Mas aquele chute na barriga, o aborto… Seu bebê pagou com a sua vida a estupidez dela, de não ter tido coragem de ter colocado um fim naquele relacionamento abusivo. Não, não havia como perdoar o imperdoável, ele jamais iria mudar. Marinalva não sabia o que lhe aguardava. Não ia ser fácil, isso ela sabia. Mas quando uma mulher decide que quer mudar, que não quer mais apanhar, ela compra, sim, uma passagem de ida, sem volta. Vai com a roupa do corpo. Não sabe onde vai ficar… Marinalva olha o horizonte. Dá um sorriso e adormece.

Por Giovana Schneider

Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br