Partidas

O ônibus chegou, mas a senhora permanece na plataforma. Deveria tomar este ônibus? Aonde ele a levaria? Vê a porta abrir-se e é sugada ao interior, o corpo de encontro ao banco na primeira fila. Única passageira.

Há muito, muito tempo, a menininha no primeiro ano da escola religiosa vê, com alegria, a montagem de um presépio. Enorme, ali no palco do salão onde se realizam as festividades do colégio. A cada dia, o que faz por primeiro é correr até o lugar observando cada item, cada personagem acrescentado aos demais que formarão o cenário imaginário da “chegada do Senhor”. Os grãos de trigo plantados na terra fofa comporão as poucas relvas suaves em tons verde claros. Ao fundo, um morro e as casas penduradas adornando-o.  Um teleférico leva os trabalhadores em miniatura ao cimo, às pequenas luzes clareando as janelas e terraços. De influência europeia, uma vila do interior, talvez italiana com seus personagens antigos, o ferreiro, o moleiro, o sapateiro, o pastor e suas ovelhas, a igreja, o sino, a roda d’água, homens e mulheres em suas roupas características. Em destaque, primeiro plano, a manjedoura, o menino e seus pais, os reis Magos. Gostava do espetáculo, ainda que não entendesse o porquê daquela montagem. “É para não nos esquecermos de que há sempre um Natal, um menino que nasce do amor e da fé”. “Esquecer? Saber disso já me assusta, pondera a pequena. Não vou me esquecer.” Enquanto analisa os animais tão próximos d’Aquele que seria chamado “filho de Deus”.

À medida que dezembro se aproxima, também o coral ensaia seus cânticos, a atmosfera mais mística, o desejo de ser bom e justo, de estar à altura do que ensinou que o amor deve ser o objetivo maior das nossas vidas…

Natais passados, levados pelo tempo, pela roda da vida que segue em frente. Presépio vivo, em tamanho natural montado no largo do Vaticano, e o início de uma coleção de pequenos presépios lembranças dos lugares visitados. Descobre que há presépios ao redor do mundo, com suas diferenciações e particularidades.

Dezembro 2021. O ônibus chega. De mãos dadas, a senhora e a guria sorriem uma para a outra. Entram pela porta aberta, levando de bagagem uma caixa contendo um presépio em embalagem colorida. Rumo ao futuro! 

Por Vilma Vianna

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br