Antonio Ruyz é CEO da TransRuyz Transportes, vice-coordenador nacional da COMJOVEM, membro da diretoria da Fetranspar e Sintropar, coordenador da Câmara Transporte de Mobilidade do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Cascavel e também coautor da obra O transporte de cargas brasileiro em tempos de pandemia, publicado pela Pragmatha. Nesta entrevista, ele fala sobre a realidade do transporte no agronegócio, sua área de especialidade.
Em seu artigo, você fala sobre o transporte de cargas para o agronegócio. Comparando com outros segmentos de transporte, quais as particularidades da realidade atual dele?
O transporte do agronegócio, independente se é o transporte de soja, milho, café etc, é um pouco diferente, porque muitas vezes você acaba realizando carregamentos e descarregamentos em fazendas ou em locais fora das estradas. Isso, comparado a outras modalidades que muitas vezes acabam entregando a carga em grandes centros. O agronegócio vai mais além. Vai até o agricultor, esteja o mais distante possível ou não, porque o agro não para, não tem local, não tem divisas. Acredito que os transportadores do agronegócio são verdadeiros guerreiros. Faça sol, faça chuva, seja de dia ou de noite, eles estão sempre lá para atender o cliente.
Quais desafios e perspectivas você elenca como os principais para 2021 no transporte de cargas para o agronegócio?
Em termos de desafios do setor para 2021, acredito que, em primeiro lugar, é o escoamento dos produtos. Hoje o Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo. A safra projetada para 2021 é 5% maior do que em 2020, então estamos falando de alguns milhões de toneladas. O desafio do transportador será escoar toda essa produção, mas, também, lidar com a falta de infraestrutura, que eu acho que é o maior desafio. Muitas vezes acabamos transitando em rodovias em más condições ou acabamos encontrando gargalos nos portos brasileiros, deixando o veículo de 24 a 48 horas para efetuar o descarregamento ou para fazer o carregamento no local. Nosso maior obstáculo como transportadores do agronegócio é, realmente, a falta de infraestrutura para que possamos entregar uma melhor performance e, assim, gerar melhores resultados para as empresas.
Na sua opinião, quais as principais lições da pandemia?
A maior lição que a pandemia trouxe para nós, transportadores, foi a importância do transporte rodoviário para o país. Se não tivemos um colapso ainda maior no ápice da pandemia foi porque o transporte não parou. O transporte manteve o abastecimento de todas as cidades e, com isso, pudemos ver o quanto o setor é importante para o Brasil e quanto tem que ser valorizado por todas as pessoas, tendo ou não relação com o segmento. Há de ter respeito. Acredito que o distanciamento entre as pessoas também nos ensinou a valorizar mais cada pequeno gesto que fazemos quando estamos próximos de quem admiramos e que vivem no nosso dia a dia.
Como está a saúde das empresas de transporte que atendem este setor?
Não é possível ter uma visão muito aprofundada, porque há diversas empresas com diferentes processos de gestão e formas de atuar. Entretanto, o setor de transporte, com tudo que tem vivenciado no ano 2021 e como todo o aumento do diesel e dos custos operacionais, desde caminhões, peças de pneus e todos os insumos, acredito que poderíamos estar melhor. Acho que o agronegócio poderia estar melhor, assim como as empresas, mas devido a todas as circunstâncias e incertezas, as empresas estão conseguindo manter suas operações. Entretanto, se tivéssemos uma remuneração que vai de acordo com nossa necessidade, poderíamos estar em uma situação mais benéfica. O transportador do agronegócio, em geral, está sempre investindo em frotas e tecnologia e, muitas vezes, os embarcadores não nos remuneram da forma que nós entendemos que seja rentável. Algo que nós não podemos ter medo é de ter lucro. Acho que todas as empresas nascem com objetivo de gerar lucro e esse é nosso objetivo.
Por muito tempo se falou que o desperdício era um dos principais problemas no transporte para o setor primário. Este quadro tem mudado?
Realmente, o desperdício é um gargalo que nós temos. Se pagarmos desde a origem, o agricultor, até a transformação do produto, em todo esse percurso se perde muita matéria prima. É preciso apenas percorrer essas rodovias que são grandes eixos de escoamento de produtos até o porto e pode-se perceber na margem das rodovias o desperdício que ocorre. Muitas vezes isso acontece pela falta de infraestrutura, não é nem um problema relacionado com os caminhões em si. Até caminhões novos acabam gerando esse desperdício pela falta de uma boa rodovia para tráfego, a qual permite um escoamento mais rápido. Isto é algo que deve ser melhorado, mas será uma conquista de médio a longo prazo.
O que significa, para você, ser coautor da obra?
É muito gratificante poder fazer parte de um livro que fala sobre as dificuldades, as dores e alegrias do transportador, com enfoque neste momento de pandemia. A gente buscou falar de uma forma mais objetiva e clara, para que as pessoas pudessem entender o quanto o transporte, inclusive o do agronegócio, é importante. Nós, transportadores, temos um papel muito grande e muito significativo para a economia brasileira.