“Os personagens têm os pés sobre aquele chão, mas um olhar além”

“Alguns textos deste livro foram sendo produzidos ao longo dos últimos cinco anos. Memórias de afeto estavam lá, perceptíveis em cada conto; muitas delas remetiam ao mesmo universo de zona rural da minha infância, despertando nos primeiros leitores lembranças sensíveis. Estes, em especial os familiares, foram os principais incentivadores desta publicação.”

Quem afirma é a escritora Eva Crochemore, sobre “Viagem ao interior”, livro que está publicando pela Pragmatha Editora. Nesta entrevista, ela fala sobre como foi o processo criativo e, entre outros temas, sobre os principais desafio e alegrias que encontrou na jornada.

Como foi o processo de gestação desta obra?

Os textos separados para este livro foram produzidos a partir de propostas lançadas nas oficinas literárias das quais participo. Uma vez aceitos os desafios semanais e, enquanto eu buscava concretizar informações e associações das ideias lançadas, era comum que eu as conectasse com o pequeno grande mundo da minha infância. Era como se um facho de luz, incidindo sobre aquela região, conseguisse focar os locais e as pessoas, despertando-me a inspiração.

Quais as principais temáticas abordadas?

A obra pretende registrar reminiscências de um espaço geográfico e de um tempo cronológico, tanto de pouquidão como de abastância. A vida pulsante de parcos recursos, mas de abundantes sonhos e efusivas emoções. Os personagens têm os pés sobre aquele chão, mas um olhar além. São homens, mulheres e crianças, gente simples que ama, sem dizer que ama; que sofre, seca as lágrimas e se autodesafia à superação; que se aplica a realizar o único sonho viável; pessoas que cultivam a fé em Deus, crendo que, unidas, vencerão.

O que o leitor encontrará no livro?

O leitor encontrará lembranças de um modo de vida simples, creio extinto, pois totalmente desprovido do progresso tecnológico, mas rico em vigoroso e dignificante movimento humano para sobreviver e prosperar. Esperança, gratidão, otimismo perpassam as gerações, inobstante as agruras vividas pelos personagens.

O que o leitor não encontrará no livro?

No livro não se encontrará fórmula mágica para finais felizes, solução fácil ou desfechos ideais, tampouco pessimismo, negligência ou fraqueza no desempenho dos protagonistas em ação nos diferentes contos.

Quais foram os maiores desafios ao longo da jornada?

Um grande desafio foi a seleção dos textos que fariam parte do livro, uma vez definido o tema. Os contos selecionados, em sua maioria, foram produzidos em oficinas literárias e, como de praxe, expostos ao crivo dos mestres literatos e dos colegas, o que criou em mim a confiança necessária para publicá-los, sem a qual eu teria enfrentado o meu maior desafio.

Quais foram as principais alegrias?

Ao trazer para os contos personagens que puderam interpretar cenas reais ou fictícias, que remeteram a um tempo-espaço, real ou imaginário, alegrei-me com os protagonistas e coadjuvantes desempenhando, generosamente, papéis únicos e decisivos na minha infância, num contexto em nada comparável com a infância de meus filhos e netas.

O que o livro representa pra você?

Posso dizer que o livro representa para mim o resgate de uma memória significativa, ainda muito viva em mim, desejosa de ser registrada, ainda que aquela realidade tenha se mesclado de um imaginário que a repaginou com o passar dos anos.