O sonho

            Subornar o médico era uma possibilidade — pensou Laura — não teria outra solução. Daquele jeito que estava não podia continuar. Os dias foram passando, Laura não sabia ao certo o que fazer para sair daquele lugar. Ela estava triste. Via e ouvia, mas não se mexia. O melhor era acabar logo com isso. Sabia exatamente quando o médico viria, pois a enfermeira chegava antes e fazia algumas anotações. Daquele dia não poderia passar, ele entenderia de alguma forma o que ela queria. Qual foi seu espanto quando viu sua mãe entrando junto com o médico. Os dois começaram a conversar e ouviu quando sua mãe falou:

            — Doutor, a minha intenção jamais foi te subornar, afinal de contas estou falando de minha filha.

            — Sim, é que a senhora falou de um jeito que parecia que eu aceitaria algum agrado para desligar estes aparelhos. Entendi como suborno, desculpe-me.

            — Talvez, ou melhor, me expressei mal, é que sonhei com ela me pedindo para subornar o senhor, e acabei falando em suborno.

            Laura estava ouvindo com alegria aquela conversa. Sempre subornou para conseguir o que queria. Trabalhava também com marketing de políticos e o suborno sempre foi uma coisa normal. Sua mãe e ela trabalhavam juntas. Sempre foram calculistas. Agiam friamente em muitos casos.

            Não estava entendendo como conseguiu se comunicar com sua mãe através do sonho? Elas eram pessoas céticas, mas não ia pensar nisso agora. A conversa da sua mãe com o médico continuava.

            — A senhora há de convir que no momento oportuno iremos fazer isso, mas agora ainda não vejo necessidade. Ah, e tem outra coisa, quando desligarmos pode não ser o fim.

            — Tudo bem — a mãe fala cabisbaixa — Peço desculpas novamente, aquele sonho mexeu comigo, estou até envergonhada.

            — Acredito que sim, minha senhora — o médico fala estendendo-lhe a mão — O suborno é uma coisa muito séria e sonhos também.

            A mãe, com os olhos marejados, foi até a filha e deu-lhe um beijo na testa e falou baixinho:

            — Nem tudo nesta vida é do jeito que queremos que seja, minha querida. Tem certas coisas que acontecem para nos mostrar isso e também ensinar.

Por Giovana Schneider

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br