O reencontro

“O senhor poderia dar licença?”

Aquela voz, aquela voz tão terna e próxima fez com que um calafrio passasse pelo meu corpo. Era ela, Ingrid, a menina linda, ruiva e cheia de sardas que conheci no pátio do colégio e pela qual fiquei apaixonado até sair daquela cidade que me formou como homem. Em seguida conheci Sara, que se transformou em minha mulher. Fomos casados por 20 anos até o seu falecimento. Casamento dentro do quadrado, sem piruetas e, muito menos, expectativas. Mas Sara cumpriu o seu papel ao meu lado. Fora a mulher fina, elegante e sincera, meu apoio para firmar-me como juiz em uma das comarcas mais complicadas do Estado.

Mas foi Ingrid que me iniciou no desejo. Foi ela que me tirou noites e noites de sono nas madrugadas gélidas naquela cidade no fim do mundo. Foi ela a menina que se transformo na charmosa mulher daquele dia, justamente no dia do funeral da Dona Josefa, a sua tia e vizinha da minha família na época, que me abrigava na sua casa quando meus pais não estavam na cidade. Eu e Ingrid acabamos trilhando caminhos diversos, mas, naquele dia, as lembranças e o reconhecimento por Dona Josefa aproximaram-nos.

Retornamos à nossa origem para o seu funeral. Sim, eu tinha notícias dela e sabia que virara professora de biologia de uma faculdade em cidade próxima. Naquele instante, face ao pedido, facilitei o seu acesso à capela e, sem qualquer combinação, juntos rezamos uma Ave Maria pela falecida. Aproveitei a reza para agradecer o tão amorável reencontro. Penso que ela também, pois seu olhar de soslaio proferiu a denúncia.

Por Rosalva Rocha



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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br