O que é mais importante, a obra ou o autor?

O que é mais importante: a obra ou o autor? Fizemos esta pergunta a escritores do Caderno Literário Pragmatha. Confira:

Raquel Alves – Já que se trata de uma pergunta que permite apenas uma escolha, acredito que a vida do autor represente boa parte do que podemos observar como reflexo em suas obras. Sempre quando lemos algum texto/livro, tentamos entender o contexto ao redor deste trabalho e, consequentemente, nos voltamos ao autor, para que, buscando um pouco de sua biografia, referências, vivências e experiências, possamos compreender a sua própria obra.

Fernando Matos – Creio piamente que não podemos separar os dois. Seria como tentar separar o sangue do coração… Um completa o outro.

Leonardo Andrade – Sem dúvida, a obra. O autor é um intermediário, um psicógrafo, uma ferramenta a serviço da literatura. O autor passa, a obra fica e se eterniza. O autor é um ser complexo, cheio de características e detalhes muito além da obra. A obra é sua melhor parte, seu filet mignon onde ele só mostra ou sugere o que quer que seja visto. O autor é um ser em mutação e a obra é um universo fechado após seu término. Nada garante que o autor que a tenha criado num determinado momento seja o mesmo após sua conclusão. Admire sem parcimônia a obra, aprecie com cuidado o autor.

Sumica Miyashiro Iwamoto – O autor é importante enquanto produz a obra, mas a obra é mais importante porque se sobrepõe o autor pela eternidade, está viva, ensina e perpetua. É a luz do próprio autor reascendendo sempre seu legado para o mundo e assim o tornando imortal.

Giovana Schneider – No meu ponto de vista é o autor, pois acredito que sem ele a obra não existirá. Foi o autor que viajou dias e noites para criar, para dar vida à obra. Mas a realidade é que o nome da obra é sempre bem mais lembrado do que o nome do autor. Isto é um fato. Enfim, a obra é mais importante.

Rita Queiroz – A obra é sempre mais importante do que o autor ou a autora. A obra transcende tempo e espaço, falando por si mesma. Não têm importância as convicções do(a) autor(a). Um caso exemplar é do escritor Nelson Rodrigues, um conservador, cuja obra foi transgressora.

Adilson Roberto Gonçalves – Autores perenes são os que estão em simbiose com suas obras. A obra desassociada das vicissitudes do autor inexiste; será apenas algo artificial, eivada de princípios, de fundamentos, enfim, sem sabor. A obra que se sabe importante é de um autor que soube fazê-la. Por isso a busca, a angústia, a insensatez pela luta intestina e ininterrupta com o texto. Autor sem a importância da obra é meramente um escrevinhador, escrevinhador que pode estar no curso de ser autor, se o tempo e a persistência permitirem.

Marilu F Queiroz – Na minha opinião, a obra é o resultado da criatividade e inspiração do autor. Uma obra, dependendo da sua relevância, pode ser eterna. Mas o autor que a gestou e lhe deu a vida tem uma vital importância, pois sem ele a obra jamais existiria.

Antonio Marcos Bandeira – Os dois têm igual importância, pois não haveria obra sem o autor e vice-versa. A priori poderíamos responder o autor, claro, mas como chamá-lo assim e não identificar sua obra? Ou seja, como conceber o “Auto da Compadecida” sem Ariano Suassuna, o gênio que a escreveu?