O papel de arroz

O presente chegou com cinco anos de atraso. Infelizmente, ela já havia partido desta vida. Uma pena – pensou Rebeca. Ela ficaria tão feliz se pudesse ter recebido. Seus pensamentos voaram para aquela viagem que fizeram para o Nepal. Ela já sabia que o tumor que carregava no cérebro era maligno, e que as chances eram mínimas.

A espiritualidade do Nepal é realmente fascinante, e essa foi uma das causas da escolha. Foi uma jornada espiritual. Uma maravilhosa peregrinação religiosa que fizeram. Lá tentaram entender o que estava acontecendo. Não entenderam, mas despertaram o lado espiritual.

Rebeca abriu o pacote e ficou olhando o papel de arroz, lembrou do sorriso dela quando falou que queria aprender a fazer, e a nepalesa respondeu que era muito tedioso, pois todo processo é feito a mão, com a casca do arroz. Ela, com aquele sorriso lindo, respondeu:

— Tédio, é uma das coisas que não posso me dar o luxo de ter, na minha atual condição.

Ela fez amizade com a moça nepalesa, que lhe presenteou com aquele papel, que tinha a imagem do Sidarta Gautama, o Buda. Elas, infelizmente, esqueceram no hotel. A burocracia e a falta de boa vontade prevaleceram por cinco anos.

Rebeca vestiu o casaco e pegou a caixa. Não havia outra coisa a ser feita. Foi para o cemitério. Deixaria lá. Afinal, o presente não era dela. 

Por Giovana Schneider

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