“O grupo Proseiros me deu bons – e talentosos – amigos literários”

Eduardo Guilhon Araujo é ruivo, curioso, maratonista, skater e triatleta. Além disso, historiador diletante e apreciador dos números primos, boas cervejas, bons vinhos e, principalmente, bons momentos. É escritor nas (mui escassas) horas vagas e um dos coautores da obra Proseiros | Contos, publicado pela Pragmatha Editora. Nesta entrevista, ele fala sobre a experiência de participar do projeto.

O que representa pra você participar desta antologia?

É uma celebração de um ano tão produtivo em termos literários. Mais que celebrar a participação na antologia, fico muito feliz de participar dos “Proseiros”, que me deu bons – e talentosos – amigos literários.

No conto Mimosa pudica você exercita dois pontos de vista. Como foi esse processo de criação?

Quis contrapor um pouco o pensamento de cada personagem. Digo sempre que este é o conto mais “teatral” que já fiz, com cada parágrafo representando um ponto de vista muito distinto. Só no final a narrativa vai para terceira pessoa finalizando a história. Foi um experimento literário, gostei bastante de fazer.

No conto Vinho real você está em casa! Escreve sobre história, dá vida a personagens de outras épocas… Como foi o processo de pesquisa?

Pesquisei sobre a queda da monarquia portuguesa, que se assemelhou com a do Brasil, família despojada do poder, banida do país. Também usei uma história pessoal. Meu sogro é de Riba do Moro, uma vila perto da cidade de Monção, norte de Portugal. Já estive lá, é uma área fértil para contar histórias, com suas casas de pedras, vinhedos em volta, a típica igreja central. Também usei um vinho que muito aprecio da região – o Alvarinho Deu La Deu. A praga filoxera também é uma história real, dizimou muitos vinhedos na Europa. O conto busca conectar estas pontas, juntando em uma narrativa quase épica!

O conto Radúnitsa toca em um tema delicado. Na sua opinião, o escritor deve ter liberdade para falar de todo e qualquer assunto, ou você acredita que existem temas que devem ser evitados?

Liberdade total. Já tivemos censura no Brasil e, apesar de alguns saudosistas, este tempo já acabou faz tempo (que bom e oxalá não volte). Não sei se o tema abordado existe de fato na vida real (quem sabe?) mas Nelson Rodrigues dizia que “tarado é toda pessoa normal pega em flagrante”.

Você escreve no conto Laje: Bento era esguio, magro e elegante nos tratos e um típico porte militar. Já Pedro era um quase obeso, um lutador, sem qualquer formação militar e que se guiava apenas pelo amor à sua terra. Como é, pra você, o processo de criação e caracterização de personagens?

Neste caso foi fácil, pois os dois não eram “personagens” na semântica da palavra visto que eles existiram de fato. A história contada no conto “Laje” é real, os dois realmente tentaram fugir da prisão, só que um não passou pelas grades. O outro era militar de fato, então foi fácil caracterizá-los. Gosto de aproximar a narrativa de ficção de algo real, deixando propositadamente nebuloso sobre o que é verdade e o que é ficção. Este conto foi bem típico desta safra.

Destes contos, qual o seu preferido?

Como experimento literário, sem dúvida Mimosa Pudica. Como falei, quase teatral. E também, como sou pai de uma menina de quinze anos, o conto foi uma “puxada de orelhas” em homens que cismam em maltratar as mulheres ou tratá-las de forma inferior.