A Sandra (Veroneze, da Editora Pragmatha) teve uma ideia brilhante e me propôs um desafio: esboçar como seria o arquétipo do escritor de cada signo.
Desafio aceito e começa a preocupação de não ser muito óbvio e nem didático. Seguindo as instruções da mestra, vamos tentar fazer algo leve e divertido, mas sem jamais perder o sentido. Afinal, esse que vos fala (ou melhor, escreve) é capricorniano de 0ºe 34. Mas acalme-se (ou não!), caro leitor. Tenho ascendente em gêmeos e lua em touro, mas esses são temas futuros, certo Sandra?
Vamos começar …
O escritor ariano, aquele que reclama do papel e da caneta, sim, ele ainda usa papel e caneta, pois já quebrou o notebook irritado com sua lentidão, vê seu personagem principal numa encruzilhada e não sabe como continuar. Por ele, pegava qualquer caminho e de um jeito ou de outro chegaria ao fim, arrastando tudo que fosse preciso para isso. Mas, neste caso, um dos caminhos é um despenhadeiro e seu livro não fala de pós-morte. Mas… pode falar… Ah, que droga, quem disse que tenho que definir alguma coisa, só vou escrever e você leia se quiser… P…
Já o escritor taurino precisa estar confortável para escrever, em um lugar agradável e com lanche, claro. Não há vida sem comida para o taurino e nada de algo frugal. O taurino precisa de sustância para manter sua estrutura física e mental, que aliás estão intrinsecamente ligadas. Não sei quem inventou a expressão que saco vazio não para em pé, mas certamente era taurino. Ele descreve com mestria restaurantes e cantinas e enquanto vai se aprofundando no assunto começa a ficar com água na boca, dá uma fome, hum… Acho que preciso de algo mais para comer, daqui a pouco continuo a escrever…
O escritor geminiano tem alguma (muita!) dificuldade de sentar para escrever, afinal existem tantas coisas acontecendo e se concentrar em apenas uma é um desafio Hercúleo. Mas depois de muita luuta interna ele consegue. Começa a pensar que tipo de texto escrever… As possibilidades são inúmeras e tão promissoras… Por que escrever algo dentro dos padrões? Por que existem padrões? Por que não fazer uma mistura de estilos? Por que não criar algo novo? Por que não melhor algo existente? Ah, por que escrever?
O canceriano escreve naquele velho caderninho que sua avó usava com tanto carinho. Usa a caneta que seu pai, também escritor, usou quando escreveu seu primeiro artigo. Foi difícil achar uma carga nova para ela, mas tinha na loja do seu Manuelzinho, aquela que ele herdou do pai. Ah, família é tudo! Vou escrever uma saga familiar, quem sabe a história de uma família de imigrantes… Mas eles sofreram tanto, passaram por tanta coisa, não tenho condições emocionais para escrever agora.
O escritor leonino estufa o peito, faz uma bela pose e senta para escrever um bestseller, claro, porque o que fizer será um imenso sucesso. Não há a menor possibilidade de acontecer algo diferente. Ele já vislumbra o livro em destaque nas principais livrarias e o boom de vendas na Amazon, não a .br e sim a .com, destaque mundial! Claro que vai opiniar e mudar muito do roteiro na adaptação para o cinema (seu livro que ainda nem foi imaginado já está vendido para Hollywood!) e fará questão absoluta do seu nome junto com o dos atores principais. Afinal, nada existira se não fosse ele…
O virginiano precisa escolher meticulosamente onde vai escrever. O escritório está precisando de uma pintura, a sala está bagunçada, é muito difícil conviver com os outros. Pensou num personagem mas ele parece tão chato, tão cheio de vicissitudes, complicado acompanhá-lo. Não há coerência, talvez fosse melhor escrever sobre ele mesmo, já que é virtuoso e serve de exemplo para os outro. Mas será que existem palavras para descrever sua rotina tão meticulosamente ajustada?
O escritor libriano quer passar para seus leitores equilíbrio e virtudes, precisa escrever sobre um personagem impoluto, alguém disposto a equalizar as situações, a se mostrar aquele esteio de luz ante as trevas, um oásis de sanidade em meio ao caos. Tem que fazer algo bonito, afinal beleza é fundamental. Senta feliz para escrever, mas começa a se entristecer pensando nas críticas que certamente virão. As pessoas têm inveja dos mediadores. O que move o mundo é o conflito. Como é difícil viver, escrever então…
O escorpiano sempre está com tesão para escrever (não só para escrever!) e já pensa em diversas cenas quentes e sensuais antes mesmo de definir o perfil de seus personagens. Afinal, sem tesão não há solução! Nada de livros infantis ou rasos. A profundida é fundamental (literalmente!). É preciso compor personagens densos, sedentos por conhecimento e aventuras. Nada de água com açúcar. De preferência muito absinto. Aliás, beber dá um calor, uma vontade… Vou fazer, daqui a pouco escrevo…
O sagitariano começa a escrever já pensando no lançamento do livro e na noite de autógrafos, vislumbra as inúmeras possibilidades que seu trabalho irá lhe proporcionar. O livro é um detalhe. O alvo está à frente. Sua tarefa mais árdua será passar pelo período da escrita, suportar a rotina sem se perder no futuro, o centauro (sua figura mitológica correspondente) atira a flecha e passa a vida correndo atrás dela sem perceber as setas do caminho. Aliás, por que a sinalização?
O capricorniano planeja escrever um grande sucesso, claro que não algo popular. Conhecimento precisa ser adquirido e não entregue de bandeja. Não é para qualquer um. Sabe que terá críticas, algumas pesadas, mas faz parte. Os gênios são mesmo incompreendidos, sem problemas. Além do livro, ele escreverá um roteiro de como lê-lo corretamente e planejará sessões de autógrafo onde lerá para seus leitores e explicará o que certamente muitos não entenderam. É tão trabalhoso ter sempre razão…
O escritor aquariano, antes de escrever, começa a questionar o formato dos livros e principalmente o mercado editorial. Por que as coisas têm que ser assim? Quer os direitos integrais de sua propriedade intelectual; é um absurdo o que fazem com os escritores relegando-os a segundo plano depois deles fazerem todo trabalho. Escreverá uma obra que questionará tudo e modificará todos os padrões. O problema é que depois que surgirem os novos padrões, eles também precisarão ser modificados, aí começa o infinito ciclo das mudanças….
O pisciano tem tantas ideias para escrever, cada uma delas se dividindo em infinitas outras… Ele precisa conversar com alguém a respeito, mas ninguém tem paciência com ele. Ninguém consegue acompanhar sua linha (emboladíssima) de raciocínio. “Viajar (no mundo mental) é preciso, escrever não é preciso”. Ou é? Talvez seja melhor falar, dar uma palestra… Não, quiçá bater um papo, de preferência ao ar livre, vendo a natureza, tomando uma… Vou pensar nisso…
Caros leitores, esse texto é uma imensa brincadeira, bastante caricata, pegando apenas uma das facetas do que o arquétipo de um signo pode ter. São inúmeras possibilidades. Sinto-me obrigado a lembrar que ninguém é apenas seu signo solar, cada um possui seu mapa individual que mesclado com sua história de vida, lhe tornam um ser único, um universo particular em eterna expansão. O mapa é uma espécie de foto do seu nascimento, é um guia que não precisa ser seguido à risca, mas certamente deve ser escutado. Dentro do mapa, existem ascendente, planetas, casas, elementos, aspectos etc., todos fundamentais para compreensão do todo. Sugiro fortemente que façam e conheçam bem seus mapas. É mais importante conhecer seu mapa do que saber de cor seu número de identidade ou CPF. Talvez não seja tão prático no dia a dia, mas ao longo da vida será, tenha certeza. A Astrologia é a mãe de todas as ciências e foi fundamental na evolução da humanidade. A observação do céu fez com que os homens entendessem o plantio e a colheita. A Astrologia nos trouxe até aqui, imagina onde ela ainda pode nos levar…
Leonardo Andrade é astrólogo e escritor