Caro leitor
A vida é cheia de altos e baixos. São momentos que se tornam cruciais para o sujeito repensar quem é, de onde vem e para onde vai. Alguns episódios podem ser por demais marcantes. É o caso especialmente dos ritos de passagem, como casamento, nascimento de um filho, aposentadoria. Há, inclusive, quem pontue sua trajetória por estes ritos: me alfabetizei aos sete, aprendi a andar de bicicleta aos oito, meu primeiro amor foi aos 16, passei no vestibular aos 17, casei-me aos 36, tive filhos com 40, e assim sucessivamente.
Giovana Schneider, no “Paralelo da vida”, escolheu uma experiência de quase morte para assinalar o antes e depois de sua protagonista. Uma escolha, eu diria, bastante ousada. Além de ser um tema tabu, não é algo com vasto material disponível para pesquisa. Acertadamente, Giovana trilhou a senda da intuição para ir desdobrando os acontecimentos na vida de Mayara.
Por demasiada humana, trata-se de uma narrativa linear e deliciosamente cotidiana. Os diálogos são tão naturais que é possível se sentir junto dos personagens, no quarto de hospital, na cafeteria da esquina, ou no sofá da sala enquanto o “dogo” corre pelas pernas, para, depois, cansado, aninhar-se no nosso colo. É possível sentir toda dor de determinado personagem, bem como a alegria de outro; e também o torpor e sensação de confusão que outro personagem sente diante de uma vida que se apresenta às vezes tão sem nexo ou sentido.
E nesse embalo despretensioso, enquanto vamos saboreando a história, também somos convidados a refletir sobre nossa própria vida. Como eu agiria nesta situação? Como eu me sentiria diante de tal acontecimento? O que eu faria caso tivesse que passar por tal experiência?
Isso tudo faz de “No paralelo da vida” uma obra de leitura singular. A história pede a companhia um bom chá, café ou taça de vinho. É obra para degustar, muito embora ela nos tome, vira e mexe, de assalto, e exija uma leitura voraz, ansiosa.
A mim, “No paralelo da vida” impactou. Mexeu comigo de diversas formas. Espero que faça o mesmo com você. Boa leitura!
Sandra Veroneze | Editora