No ocaso

O sol se pôs no horizonte. Laura olha fascinada. Não quer perder nada daquele espetáculo. O encanto era particular. Trazia-lhe uma sensação boa — pensou. Sua mãe sempre marcava o horário exato em que o sol ia se pôr. Ela sabia exatamente qual o local que se deitava em cada estação, era assim que falava. E a carregava para ver o espetáculo. Laura estava tão concentrada que se assustou com a voz de Maria chamando por ela:

— Laurinha, sabia que te encontraria aqui, uma tal de editora está ligando insistentemente para você.

Maria foi a parteira que lhe trouxe ao mundo, depois sua babá. Mas não a via como uma adulta, e teimava em lhe chamar de Laurinha.

— Que susto, Maria. Ssabe o quanto gosto de ver o sol se pôr, ou se deitar, no horizonte — Laura fala, com um sorriso nos lábios — E foi ela que me ensinou.

— Tudo bem, nós sabemos que você se tornou uma escritora famosa, por causa deste teu jeito sonhador, igual a sua mãe — Maria fala abrindo um grande sorriso, mostrando os dentes alvos e brancos.

— Não, não é bem assim, Maria. Posso ser uma sonhadora, mas preciso saber colocar no papel os meus sonhos — Laura fala, e dá um belo sorriso — Ah, e com certeza puxei à mamãe.

— Daqui a pouco a tal editora vai ligar novamente…

— Está bem, vamos para casa, o sol já se deitou mesmo, e ela também. — Laura abraça Maria.

A noite estava tranquila. Laura fica na varanda, pensa no trágico acidente. Seu pai morreu. Sua mãe ficou tetraplégica. Ela virou escritora. Maria virou uma fiel escudeira de sua mãe, até que ela morreu, ou descansou. A fazenda das estações continua linda, sempre com seu estilo. A paisagem é alterada conforme as estações do ano, o que não acontece em todos os lugares. Lembra do sonho, que teve com sua mãe na noite em que ela morreu. Foi muito real.

Sua mãe estava em pé na sua frente. Sentiu seu coração pulsar de felicidade ao vê-la assim… Ela chamou para acompanhá-la, queria ir onde dava para ver o deitar do sol, e que estava com saudade. Correu para alcançá-la. Ela rodopiava pela grama. Queria abraçá-la. Gritar para todos que sua mãe havia voltado a andar. Mas antes de alcançá-la, ela se jogou no horizonte, flutuando. Deu adeus, jogando beijos, com aquele sorriso lindo. Quando acordou, viu Maria chorando, e falando que sua mãe havia partido.

Não, ela não partiu.

Ela se deitou com o sol.

E foi feliz…

No ocaso.

Por Giovana Schneider