Naquele inverno, foi a primeira vez que a vi. Estava na minha varanda e ela na sua. Sem dúvida, uma mulher belíssima, rosto delicado, longos cabelos negros. Morávamos no mesmo prédio, mas não nos conhecíamos. Eu fiquei admirando-a de longe e depois de algum tempo ela também olhou em minha direção. Trocamos olhares, intensos olhares. Já com alguns meses de uma vida pandêmica e solitária, aquela pequena interação foi um renascer de coisas boas, doces. No dia seguinte, mesmo horário, estávamos lá novamente, com o mesmo olhar, a mesma intensidade. Certamente foi marcante para ambos pois apesar de não haver palavras, o olhar fala, o olhar denuncia, o olhar grita. Repetimos o ritual por dias, semanas, meses, silenciosamente, devotamente. Esperava ansioso pelo momento de ir à varanda e novamente tê-la por breves minutos exclusivamente para mim. Estes caminhos sem razão e inexplicáveis que o amor nos impõe. Mas em determinado dia ela não estava mais lá. No dia seguinte também não e jamais voltou o que me eivou de tristezas. Nunca soube seu nome.
Por Eduardo Guilhon Araujo
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