Naquele dia

 Olhou demoradamente para o espelho. Agora já era tarde e não podia voltar atrás. Deu um pequeno sorriso. Não, ela não queria voltar atrás. Era o que havia sido combinado. Olhou novamente para sua imagem naquele espelho oval. Já não era tão jovem. Ficou ouvindo o som de Enya na vitrola. Respirou fundo e penteou o cabelo lentamente. Lembrou de quando se conheceram, foi tudo tão lindo. Parecia ter saído de um livro romântico. Uma bela história de amor. Em três meses já estavam casadas. E havia se passado quase quarenta anos. Compraram aquela chácara, pois o gosto pela natureza era de ambas. E, como escritora, gostava do silêncio. O lugar era ideal. Olhou para cama. O corpo dela estava lá, estendido. Ela a encontrou morta no banheiro. Deve ter sido um infarto fulminante – pensou. Não conseguiria viver só, e elas já haviam combinado que se algo acontecesse com uma, a outra tiraria a própria vida. Lembrou de Romeu e Julieta, sorriu. Sempre foi fã de William Shakespeare. Mas ela não tomaria um veneno. Olhou novamente para o espelho, viu que as cortinas já estavam em chamas, o som de Enya na vitrola continuava. Havia um explosivo próximo dela. Seria rápido.

Por Giovana Schneider

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br