Maninha


     Desde que foi a São Paulo, Maninha não foi mais a mesma. De casamento marcado para aquele dezembro, foi comprar seu vestido de noiva. Voltou com o vestido numa caixa enorme, linda, toda decorada. Eu tinha doze anos e me pareceu a caixa ser mais bonita do que o vestido. Mas como já falei, era ela quem ia se casar.
     Uma semana antes do casamento, Maninha se irritava com qualquer coisa. Chorou, ficou quieta em nosso quarto, sem dizer uma palavra. Mamãe explicou no almoço que toda noiva ficava nervosa antes de se casar, coisa lógica para a mudança de vida que ia acontecer.
     Um dia antes da grande data, para toda família, as disputas de penteados nos salões de beleza da cidade, decoração do clube, buffet e tudo que comporta um casamento cheio de dengues de pais e principalmente de mães de noivas. Maninha sumiu.
    Para dizer a verdade, fugiu. Deixou uma carta pedindo perdão, se desculpando com o pai e a mamãe, amigos e convidados, mas em nenhum momento explicou o porquê.
     Mamãe chorou, papai colocou a polícia a procurar por ela, o noivo ficou desolado. Mas ninguém encontrou nenhum indício dela, nem para onde tivesse ido. Depois até devolveram os presentes. 
     Mas não me parecia bem isso. Maninha realmente mudara, saía de casa para falar ao telefone, olhava para as estrelas de noite na janela do nosso quarto, parecia voar para longe. Mudou seu jeito de ser, vestir, pensar, até de comer.
     Recebemos uma carta, alguns meses depois, explicando que escolhera outra vida, melhor, mais significativa. Aquela cidade mexera com seus sentimentos mais profundos. Queria viver aquilo, a liberdade de ser quem quisesse sem que alguém falasse dela.

     Finalmente ela se parecia comigo, pois sempre me senti a ovelha negra da família, aquela que não queria o convencional, desejando me livrar daquele jeito de cidade pequena onde todo mundo fala o que não deve dos outros. Ela mudou, acredito que até me entendeu desde que foi comprar seu vestido em são Paulo.

Por Verena Becker

……..

Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.br