Luiz Eudes: “Escrevo para levar alegria e entretenimento às pessoas”

 Luiz Eudes é autor da Pragmatha Editora e apaixonado por literatura. Enquanto escritor, é também um excelente leitor. Nesta entrevista, ele fala sobre seus projetos literários, envolvimento na cena independente no Brasil e legado de seus livros já publicados. Confira:

Conte como foi seu caminho até se tornar um escritor?

Cresci atrás do balcão do armazém do meu pai ouvindo e vivenciando causos. A minha cidade, Sátiro Dias, sua gente e sua paisagem, é, sem dúvida, a minha maior fonte de inspiração. Muito criança ainda descobri os livros, por obra e graça do meu tio Manoel Vieira, que me apresentou ao mundo mágico, e ao meu pai Luiz Vieira, que comprou quantos e tantos livros eu lhe pedi. Sempre gostei de ler e me imaginava um escritor. Gastei tempo e folhas de papel até o primeiro texto que, por sugestão de Tom Torres, um primo que mora em Maceió, foi publicado em sites de literatura, sendo bem recebido pela comunidade cibernética, inclusive vencendo vários prêmios.

Qual é a função do escritor na sociedade?

O escritor é o porta voz de seu tempo. É alguém que busca desenvolver um pensamento crítico nos seus leitores a partir da sua visão e conhecimento de mundo. Escrevo por amor à arte, porque tenho um compromisso com literatura. A minha intenção é formar novos leitores e, quiçá́, despertar novos autores. Escrevo para levar alegria e entretenimento às pessoas. Causa em mim enorme exultação saber que alegro vidas com as minhas criações.

Sendo poeta e contista, você diria que um destes gêneros oferece maiores desafios ao autor?

Meu forte é a prosa, a poesia foi um acaso. A poesia é a escrita ritmada, é o verso que nasce com imagens que buscam uma resposta do leitor. A poesia é composição, escrita ou falada. Tudo é poesia. Este estilo literário é para o prazer, para o delírio. É o charme da literatura. Já o conto deve ser construído de forma linear, com conflito, com personagens maiores e menores, com ambientação, com inicio e fim na medida certa para não cansar nem chocar o leitor. Apenas arrebatá-lo!


Você se considera um adepto da literatura regionalista?

A literatura regionalistatem como característicao retrato de determinada região.  Gabriel Garcia Marques e sua Macondo, Antônio Torres com o Junco e Juan Rulfo com Comala, por exemplo, são autores com fortes expressões regionalistas.  No Brasil, o regionalismo sempre esteve direcionado a camadas da sociedade que vivenciam suas respectivas regiões. Uma das principais características é a apresentação de vegetação, culinária, hábitos e falas locais. Em sendo assim, o romance regionalista mostrou suas peculiaridades, bebendo em poucas fontes. E, exatamente por isso, sempre li Raquel de Queiróz, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Jorge Amado, para citar alguns autores.

Depois de ser lançado em Portugal e Angola e de ter lhe proporcionado o título de “Personalidade de Importância Cultural” pela União Baiana de Escritores, ter sido traduzido na Itália, o livro Cangalha do Vento foi relançado pela Pragmatha. Fale sobre a trajetória desta sua obra.

O Cangalha do Vento vem encontrando acolhida calorosa onde tem chegado. O livro, que já está na quarta edição no Brasil, narra situações que envolvem quatro gerações de uma família do Sertão baiano. Foi lançado na Bahia e em São Paulo, autografado em jornadas pedagógicas, objeto de estudo em universidade e colégios baianos e mineiros. Não há necessidade de pressa nem atropelamentos. Nesta trilha, o livro vem encontrando o seu lugar e foi apresentado em diversos eventos literários Brasil afora.

Você tem outros livros, inclusive voltados para o público infantil.
Fale um pouco sobre eles.

Organizei várias coletâneas e participo de diversas antologias no Brasil, em Mocambique, Angola e Portugal. Sou autor do livro de contos Leves Sombras, das novelas Cangalha do Vento e A Noite dos Ciganos, do romance Rosário Desgastado e da série infantil Baleia, de Manhã na Garganta (poesias), das narrativas históricas Conselheiro na Bahia e Encourados de Pedrão. Cada um com seu espaço em minha trajetória.

Como se sente diante dos vários prêmios já recebidos?

Esses prêmios representam a soma de esforços. Sou uma pessoa para quem ler e escrever tem qualquer coisa de muito especial. Se me tirarem os livros, verdadeiramente, não sei o que sobrará. Eu sou fruto do que leio e do que escrevo. Eu sou este fruto. Faço literatura por prazer. Tenho um compromisso com a escrita. O meu desejo é alcançar a mente e o coração de quem me ler, é criar uma intimidade com o leitor. Busco um mundo onde as pessoas tenham mais acesso aos livros, ao cinema, ao teatro, às artes. Peço a Deus, ao amanhecer, que me torne uma pessoa melhorada a cada novo dia. Acredito que precisamos de reforma continuada e assim procuro agir.

Qual o contexto de sua criação?

Jamais consegui definir qual é o meu contexto de criação. Considero-me um bom leitor de romances e como tal aprendi a juntar cacos. Fiz disto uma prática de vida e não seria diferente na literatura. Vou juntando pedaços de histórias na memória e depois transfiro para o papel. O momento é único e sempre será. Daí vem todo o processo de criação, arrumação, e vão surgindo milhares de palavras. Depois, é necessário o lapidar do texto, pois como ensinou Drummond: escrever é cortar palavras.

Que autores você admira?

No Brasil há excelentes autores.  Muitos com estradas pavimentadas e muitos chegando. Leio muito e sempre. Poesia, contos, crônicas, romances e biografias. Sem dúvida, o melhor escritor brasileiro para este aprendiz é Antônio Torres, por sua escrita leve e solta. Torres é um sujeito que consegue escrever com elegância e arte. Aprecio bastante Neruda, Cora, Drummond, Pessoa, Faulkner, Machado, Poe e Kerouac. E tenho um profundo respeito pelos mestres Machado, Rosa, Graciliano e Jorge Amado, por tudo o que representam para o universo literário.

Tem projetos literários em andamento?

Sim, sempre. Estou concluindo Bicicleta Perdida em Noite de Chuva, uma narrativa que coloca o ambiente em suspeição com os conflitos e a busca incessante da protagonista Ruth por seu objetivo. Mas não só isso: há uma série de pessoas e também situações a alegrar o ambiente. Uma história muito bacana e é só o que posso revelar. E também o romance Travessia, que abre um leque extraordinário de possibilidades para estudos sociais, religiosos, antropológicos. É um livro que fala de gente que ama, que se entrega, que ri; trata de relações sociais, de situações cotidianas. Enfim, são histórias para todas as idades.

Qual a sua visão sobre o cenário cultural brasileiro da atualidade?
Vejo com bons olhos. Tenho sido, com frequência, convidado a participar de festas literárias, saraus, eventos escolares voltados para as artes. Os museus, casa de shows, cinemas, circos e teatros estão com força, o que é incrível. Então, creio que estamos avançando a passos largos para que o Brasil volte à efervescência cultural que existiu em tempos remotos.

O que você diria para quem quer escrever?

Que leia muito e sempre. Que faça da leitura um hábito diário. E que escreva. Escreva bastante, depois trabalhe o enxugamento do texto, o afinamento. Lembrando que é extremamente importante a leitura de alguém com coragem suficiente para te apontar desvios no texto.