O escritor Eduardo Guilhon Araujo publicou pela Pragmatha a obra “A Quimera do Torto”, que faz um passeio ficcional pela história do Brasil do século XX. Perguntamos a ele, de tantos lugares e situações ambientados na obra, em quais gostaria de estar presente. Confira:
Há diversos lugares e momentos que gostaria de ter participado no meu livro “A Quimera do Torto”. Como historiador diletante nada seria mais interessante que estar nestes acontecimentos, mas vou tentar escolher apenas três.
O primeiro conto “Alvos Equinos” é interessante pela presença de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco. Este fascinante personagem da nossa história ajudou resolver diversas contendas fronteiriças do Brasil de norte a sul. Houve a questão do “Pirara” que definiu a fronteira entre o estado de Roraima e a então Guiana Britânica; a questão de “Palmas” que definiu a fronteira entre Santa Catarina e a Argentina; e por fim a aquisição do Acre da Bolívia, terra onde já viviam muitos brasileiros cujo enlace final, o Tratado de Petrópolis, é abordado no livro. Devemos muito o atual mapa do Brasil a este gênio da diplomacia, e ter chance de vê-lo em atuação seria realmente interessante.
Outro conto e momento que gostaria muito de ter participado é o “Segredos do Morro”, que aborda a demolição do Morro do Castelo no centro da cidade do Rio de Janeiro. O morro era bem icônico na cidade, remetendo aos primeiros anos da colonização portuguesa na cidade. A presença neste morro da igreja e mosteiro dos jesuítas era bastante discutida e havia muitos boatos da presença de um tesouro escondido em túneis dentro do morro. Realmente durante a sua demolição foram encontrados diversos túneis, o que causou grande frisson na época na imprensa carioca e na população. Fizeram procuras nos túneis à busca do tal tesouro, mas nada de fato foi encontrado. Os jesuítas foram obrigados a se mudarem para o então distante bairro de Botafogo, freguesia da Lagoa. Lá fundaram novamente um colégio – Santo Inácio – e conseguiram aproveitar a linda porta do antigo mosteiro do Morro do Castelo na igreja que serve ao colégio. Participar das escavações a busca de um tesouro em pleno perímetro urbano seria uma chance de brincar de “Indiana Jones” e ver a história acontecer de fato.
Por fim, o conto “Palácio das Águias, cinquenta e quatro”. Palácio das Águias na verdade é a alcunha do Palácio do Catete, que pela foto não será difícil adivinhar a razão. O conto aborda o mais traumático acontecimento político da história brasileira, o suicídio do presidente Getúlio Vargas em pleno palácio presidencial. Os fatos de agosto de 1954, que levaram ao seu desfecho no dia 24, são amplamente conhecidos, desde o atentado ao jornalista Carlos Lacerda na Rua Tonelero em Copacabana até o tiro fatal dado pelo presidente em si mesmo. Aliás o tiro foi sua última cartada política, um plot twist na opinião pública até então amplamente favorável a Lacerda e contra o presidente. Lacerda inclusive teve que deixar o país depois da morte de Getúlio em um prudente auto exílio. Sempre me imagino ali no Palácio, acompanhando como historiador este mês de agosto, próximos dos acontecimentos tão traumáticos da nossa história, e mesmo o cortejo de Getúlio até o aeroporto Santos Dumont, o maior registrado na capital até os dias de hoje.
Certamente há muitos outros contos que gostaria de estar e lugares também, mas obrigando-me a escolher três, os aqui narrados são os mais intensos do ponto de vista histórico.
Por Eduardo Guilhon Araujo
Para conhecer a obra, acesse: https://pragmatha.com.br/produto/a-quimera-do-torto-um-olhar-obliquo-pela-historia-do-brasil-seculo-xx/