Laço vermelho

O presente chegou com cinco anos de atraso. Ela pensa que sou bobo. Essa bicicleta nem é do meu tamanho. Ela, num dia alegre de aniversário, no dia mais feliz a minha vida, pegou um cara na festa e sumiu em todos esses anos. Agora, com a cara mais deslavada do universo, vem no meu aniversário de 14 anos com essa bike que mal consigo dar uma volta. Ela então diz:

– Filhinho, não vai andar na bicicleta nova?

Minha avó percebeu a minha infelicidade e a minha vergonha e veio me defender.

– Cláudio, venha aqui receber seus convidados, que estão chegando.

Eu saí dali morrendo de vergonha, mas fui receber meus convidados e vi de esguelha a minha avó pegando a minha mãe pelo braço e pelo que pude perceber, a minha avó estava falando o que eu queria falar todo esse tempo: “Não precisava me procurar agora, pois não preciso nem um pouco de você”. Mas, a minha avó sabe que eu nunca falaria isso para a minha mãe, pois sabe que eu senti muita saudade dela, porém, nesses cinco longos anos, nenhum telefonema, e-mail, carinho. Eu precisava ser forte: era o ensinamento de minha avó.

Depois de um tempo, nem vi a hora passar. Meus amigos estavam lá debochando da minha cara, pois fiquei com a cara toda suja de bolo. E agora tinha que ser um homem forte, que não sente abandono, que não aparenta fraqueza em nenhum momento, que quer ser feliz: mais ensinamentos de minha avó.

Foi assim que os convidados foram indo embora. Meus melhores amigos ficaram para ajudar minha avó, minha guerreira, com a grande bagunça que ficou nossa casa. Sempre éramos nós dois. Ela era meu espelho, meu norte, meu cais, onde sempre poderia aportar. Fui dormir depois de organizar grande parte da casa.

Amanheceu, fui verificar direitinho os meus presentes. A cada caixa que eu abria, me lembrava de quem tinha me dado, com que alegria a pessoa estava na minha casa. Após todos, me deparei com aquele laço vermelho, que estava na bicicleta, dado por minha mãe biológica. Pensei que o semblante dela era agradável, talvez ela quisesse se reconciliar comigo. Não vou levar mágoas dela, mas tem uma menininha aqui perto da minha casa que adoraria ficar com essa bicicleta. “Simbora” chamar os amigos para pintá-la.

Por Magno Machado de Freitas

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.br