Guerreiro

Olhou demoradamente para o espelho em busca de algum reconhecimento, mas não obteve sucesso neste momento.

Era um estranho que via e não sentia nenhuma empatia, parecia alguém em completa desarmonia.

Esquisitas e confusas marcas, inúmeras cicatrizes e incontáveis sinais, um guerreiro cansado e abatido, implorando por um pouco de paz.

Um olhar meio perdido de alguém que havia desistido ou de si mesmo esquecido.

Ombros caídos em um nítido sinal de capitulação, um semblante de quem começava a abandonar a razão, alguém soterrado por uma avalanche de incontrolável emoção.

Aquilo não podia ser aceito, o espelho estava com defeito, esse feitiço tinha que ser desfeito.

Não era ele na imagem, só podia ser uma louca viagem ou uma insana miragem.

Não é possível que era aquilo que ele havia se tornado, estava tudo muito errado, aquele reflexo distorcido estava condenado.

Pensou em quebrar o espelho, mas lembrou-se da maldição, tudo que não precisava era piorar ainda mais a situação.

Tentou se acalmar, fechou os olhos, respirou fundo e expirou bem lentamente, não era real, só podia ser um truque maligno da sua mente.

Convencido que era uma espécie de pesadelo, aproximou-se do espelho querendo revê-lo.

O retorno visual continuava absolutamente igual, mas já se via de forma mais natural.

Era ele sim, mas a situação não era tão ruim; era um sobrevivente, um persistente em busca de adiar um inevitável fim.

A estrada tinha cobrado seu preço, um novo adereço a cada recomeço, várias perdas em sucessivas mudanças de endereço, mas já se via com mais apreço.

São lindas as tatuagens das batalhas, as esperanças contidas nas pequenas migalhas, os desgastes resistentes das muralhas, a sabedoria adquirida nas inevitáveis falhas.

Agora tinha orgulho de sua visão, um herói em busca de realizar sua missão, um representante da mais passional paixão batalhando com as bandeiras do Amor e da superação.

Por Leonardo Andrade

……..
Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br