Exercício literário: “Pétalas ao chão”

Confira os textos recebidos nesta semana, a partir do exercício literário proposto nas redes sociais da Pragmatha Editora aos domingos. O convite é para desenvolver uma narrativa breve a partir da imagem.

Dia nada ordinário

Naquela manhã outonal, tudo estava indo tão bem até a vassoura, que estava pendurada atrás da porta de entrada do apartamento, cair no chão, fazendo um barulho ensurdecedor. O susto foi tão grande que respinguei café preto na minha camisa branca recém-passada e, ao trocá-la, percebi que estava super atrasado e já havia perdido o trem para o trabalho. “Justo hoje”, resmunguei, afinal, eu teria uma reunião mega importante com os acionistas e precisaria estar mais cedo para organizar os documentos. Enfim, cheguei em tempo de dar um aperto de mão neles e, depois, ser demitido por falta de responsabilidade. A tarde foi ainda melhor, começou a chover e, eu havia deixado o cartão do trem na gaveta do trabalho. Enquanto caminhava para casa, sem guarda-chuva, um carro passou rapidamente por uma poça d’água no canto da rua e me lavou inteiro! Com as poucas moedas que tinha no bolso, passei na farmácia para comprar remédios para um possível resfriado. Ao chegar a casa, antes mesmo de abrir a porta do prédio, reparei que havia pétalas de rosas amarelas caídas próximas de uma lixeira, achei curioso e fui ver. Assim que abri a tampa, ao lado de um buquê destruído, que indiciava mais um término de relação amorosa idealizada, havia um envelope sem nome com um papel branco dobrado dentro. Abri e, quase caí pra trás, era um cheque no valor de cem mil reais, assinado.

Por Gilberto Broilo

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Reverso do amor

Estranho me senti quando avistei, ao sair de casa, uma rosa despetalada no chão.

Depois de uma noite de prazer, com infindáveis juras de amor e promessas de companheirismo e reciprocidade, eu fiquei chocado.

A alegria transformou-se em um estranho sentimento que doeu em meu coração, antes pulsante, esperançoso, proporcionalmente grande ao que vinha vivendo e que confirmou-se na última noite.

Com a cena que me deparei, para mim um claro prenúncio, esta manhã ficou obscura e, por essa razão, eu não vou falar de amor … porque não quero prever dor.

Por Rosalva Rocha

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Dona da Noite

Despedaçada fiquei na beira da rua. Logo eu, que era a dona da noite e que o brilho da lua me fazia tão determinada. De repente, me vejo jogada aos trapos e farrapos somente olhando o que foi a vida. A flor que enfeitava meus cabelos já perdeu suas pétalas, assim como minhas lágrimas que nem escorrem mais em meu rosto. Se me perguntarem se eu vejo os meus momentos com raiva ou rancor, já lhes garanto que não. A dona da noite aprende desde cedo que nem sempre tudo é justo, mas que a beleza pode estar no olhar. Os anos se passaram correndo, quantas luas e sóis eu vi nesse céu, mas diante de muitas situações, eu, a dona da noite, trouxe meu melhor sorriso e o cheiro do meu perfume. Já ouvi tantas histórias, muitas nem sequer acreditei, mas como uma bela dama nunca questionei. A música ao fundo me faz lembrar da liberdade que tive, que me dava somente uma única condição: não poder me apaixonar. Que engraçada é a vida, que justo eu, a dona da noite, não poderia ser dona de mim mesma. É como se tudo tivesse a mesma cor, como se a gargalhada não tivesse som e a bebida não tivesse sabor. Aqueles que me exaltavam e venerávam durante a madrugada eram os mesmos que nem sequer me olhavam no primeiro raiar do sol. Afinal, o dia não me pertencia.  Mas era só o sol se pôr que lá estava eu, ou será que não estava? O meu reinado noturno seria somente uma fantasia minha? Mas o que isso importa agora?! A tampa do caixão fecha, a escuridão reina, a rosa vermelha cai ao chão e a dona da noite, finalmente, será livre.

Por Renata Cavour

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Chuva de amor

João era um homem muito apaixonado. Mas não apenas isso. Era romântico ao extremo. Quando seu relacionamento com Júlia estava prestes a completar seis anos, pensou em um plano mirabolante para demonstrar o tamanho de seu amor e pedir a mulher amada em casamento. Ela jamais poderia imaginar o que ele era capaz de fazer. Então, na manhã quente e ensolarada do dia 25 de abril, João pediu a Júlia que ela fosse ao campo de futebol perto da casa onde moravam. Disse que a encontraria lá para “darem uma volta”. Assim ele disse. Ela não entendera nada, mas foi o que fez. Quando lá chegou no horário combinado, ficou ainda mais intrigada. Ele não estava lá, mas havia um pequeno círculo amarelo no meio do campo e uma pequena placa onde estava escrito “fique aqui”. Júlia olhava para um lado e para outro e não enxergava ninguém parecido com João. Começava a ficar envergonhada diante de olhares curiosos distantes. Sem perceber, um ruído de motor que parecia vir do céu ficava gradativamente mais alto. Quando se dera conta, um avião de pequeno porte se aproximava num voo a baixa altitude. Chegava cada vez mais perto, de modo que Júlia se assustara. Antes que pensasse em correr, uma janela se abriu e o céu foi tomado por inúmeras pétalas de rosas. Era João proporcionando a Júlia uma chuva de amor. Ela olhava para cima com os olhos sorrindo tanto quanto sua boca. O campo de futebol outrora verdinho estava colorido de vermelho. Distante dali uma centena de metros, Pedrinho, de apenas seis anos de idade, brincava no quintal da frente da casa onde morava. Foi surpreendido por meia dúzia de pétalas de rosas. Olhou para cima e enxergou pela primeira vez em sua vida uma máquina com asas. Seus olhos brilharam e ele desejou estar lá pilotando aquela máquina voadora. Começara neste instante uma nova paixão.

Por Andress Pontes

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Revelação

Carlos e Fabíola se conheceram através de um aplicativo de namoro. Conversaram diariamente por algum tempo, até que decidiram marcar um encontro.

Fabíola estava deslumbrante. Vestido vermelho, salto alto. Tinha um corpo escultural, cabelos longos, boca carnuda. Mais linda que o que Carlos conseguiu ver pelas chamadas de vídeo. Ele estava encantado.

Marcaram um segundo encontro.

Carlos caprichou no visual. Levou uma rosa vermelha para presentear a garota que já estava lhe deixando apaixonado.

Ela estava ainda mais linda. Dessa vez de vestido preto.

Após conversarem um pouco, Carlos tentou beijá-la. Ela recuou. Segurando a rosa, ela disparou:

— Carlos, preciso falar algo que vejo que você não percebeu… Não sou mulher. Sou trans. Meu nome de batismo é Fábio.

Carlos gelou. Conservador como era, jamais aceitaria qualquer contato desse tipo.

Tomou a rosa da mão de Fabíola, esmagando a flor, que caiu com as pétalas ao chão.

Não disse nada. Apenas virou as costas e foi embora.

Por Marilani Bernardes

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Amor desfeito 
Passeando pela rua de uma pacata cidade do interior, jovem depara-se com rosas no chão, com pétalas soltas. Algum casal desentendeu-se jogando fora, ficando as mágoas, explicações dadas sem convencimento, decepções. Triste fim de um relacionamento ao ter a quebra do elo com o desencontro do casal, ficando enraizada as marcas do amor, que o senhor tempo deverá cicatrizar os corações feridos. Já que jogaram fora sonhos elaborados e juras amorosas por um mal-entendido proveniente da net, acabando o encanto do casal apaixonado por suposta traição e intrigas de invejosos que espalhando inverdades na rede acabando o relacionamento, que parecia promissor, mas esbarrou na falta de confiança. Indo o casal para lados opostos e as rosas choraram o amor desfeito.

Por Francisco Aquino

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Pétalas ao chão

Eu, caminhando pela rua, vi pétalas de rosas ao chão. Estavam meio murchas, também um pouco desfolhadas. Talvez ainda estivessem com algum resquício de vida. Porém ali, abandonado, seu galho estava entregue à própria sorte. Quantas pessoas por ali passaram sem notarem sua presença, outras tantas desviaram e provavelmente algumas pisotearam por nem sequer notarem seu lamento.

Será que alguém se perguntou: As roseiras sentem dor? Quando seu galho foi cortado seria porque estava carregando uma beleza que fugia da capacidade da confecção humana? Teriam eles a capacidade de destruir o que não sabem reconstruir?

Alguém, com breve gesto, poderia devolver-lhe a vida oferecendo-lhe terra e água. Tão simples. Eis a diferença. Sua morte se perpetua em substratos para a proliferação dos semelhantes e sua vida leva a propagação de sua espécie.

Muitas vezes nós, considerados seres humanos, fazemos isso. Abrimos mão de nós próprios para ajudar os outros. Subtraindo de nós mesmo. E quando investimos em nós próprios alavancamos o nosso ser. Viemos a somar.

Eu sou catadora de lixo, ninguém me conhece pelo nome e também não sei falar bonito. Apenas gostaria que o mundo refletisse sobre tantas coisas que existem que não enxergamos com os olhos e nem tocamos com as mãos, mas estão presentes em nossas vidas.

Por Nelci Bach

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Persistente
Pétalas no chão, restos de ilusão, lembranças que se vão. O vento apaga aos poucos os últimos traços, remove as pegadas e os passos.

Eu pontilhei de rosas seu caminho, rosas cor de vinho e removi cuidadosamente cada espinho. Eu preparei sua passagem, tornei bela e leve sua viagem, mas fiquei relegado a um mero item da paisagem.

Você mal me notou, simplesmente passou, para trás, nem olhou , meu idealizado oásis virou miragem e desmanchou. Mais um Amor (im)possível que finda sem sequer ter iniciado, nada além de um sonho não realizado, um esboço abandonado e descartado.

Mais uma estrela se apaga no céu, uma poesia que não sai do papel, chovem gotas de fel e, a história que não aconteceu, vai se apagando ao léu.

Poderia, ou melhor, deveria, ter sido muito diferente, mas pelo visto, não era para a gente, colho o último pedaço de flor amassado no chão e sigo em frente. Semearei mais, regarei mais, cuidarei mais, sou persistente.
Por Leonardo Andrade

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Pétalas no chão

No intervalo do almoço, sentei-me em um banco na praça que circundava o prédio em que trabalhava. Abri meu saquinho contendo meu lanche e mordi com vontade e fome o sanduíche de atum. Olhando à volta, em um banco próximo, vi que havia mais uma pessoa comendo seu lanche.

Ela estava fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Enquanto almoçava, lia o que parecia ser um polígrafo grosso e a brisa do outono folheava mais páginas do que ela pretendia. Atrapalhada, soltou as folhas para afastar o cabelo e o vento se encarregou de espalhar algumas, que sobrevoaram o gramado, caindo perto de mim.

Ela levantou de supetão, derramando o pote de frutas que deveriam ser a sua sobremesa. Carregando parte das folhas, veio em minha direção. Reconheci a jovem que trabalhava no setor de recursos humanos, na minha empresa.

— Desculpe, disse ela sorrindo, enquanto pegava as folhas que eu havia recolhido do chão.

— Creio que vais precisar de outro lanche, respondi apontando para o banco em que estivera sentada.  Dois esquilos com a cauda avermelhada e felpuda dividiam as frutas encontradas no chão.

Recordando esta cena, não lembro bem se foi neste dia ou alguns meses depois que me apaixonei por ela. Foram meses de uma grande paixão e, avassaladora como havia sido, trazia consigo o destempero de todas as grandes paixões.

Urgência em se encontrar, prioridade em viver cada momento, longas noites de amor incontido  traziam a intolerância posterior de cada minuto em que os relógios  de ambos não estivessem sincronizados.

O tempo trouxe consigo dias amargos, mas nunca enfadonhos. Um dia ela teve a coragem necessária para dizer que assim não queria mais viver.

Levantou-se da cama se vestindo enquanto pulava até o pequeno banheiro do meu quarto. Nem imaginava quantas mágoas escondera em seu coração, enumerando todas, enquanto escovava os dentes e calçava os sapatos. Com a bolsa na mão, disse adeus, deixando-me na cama, sem mover um músculo.

O telefone não atendia, a fechadura ela trocara e os colegas do trabalho pareciam fazer parte de algum serviço de escolta, não permitindo que ela se aproximasse de mim.

As semanas foram passando e hoje eu estava parado na calçada da mesma praça em que nós nos conhecemos, carregando suas flores preferidas. Pensava que talvez pudesse voltar para mim, com meu amor. Não demoraria, iria sair por aquela porta, descer a escadaria e, quem sabe, me encontrar.

Alguns minutos mais tarde e lá estava ela descendo os degraus, correndo, mas não foi ao meu encontro.

Alguém a esperava, com um buquê de rosas igual ao meu. Sorrindo, enlaçou o pescoço daquela mulher e a abraçou intensamente. Saíram de braços dados, caminhando para a praça.

Joguei meu buquê no chão e deixei as pétalas vermelhas colorirem a calçada, sob os passos dos transeuntes apressados em se dirigirem para as suas casas. Talvez para encontrarem os seus amores, infinitos enquanto durassem.

Por Elsa Timm

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Pétalas caídas
Pétalas ao chão, despetaladas, atiradas e desfeitas. São pétalas de rosas vermelhas que caídas são pétalas despedaçadas e sujas. Foram jogadas com desprezo ou com raiva. Talvez atiradas no desgosto de um amor não correspondido. Quem sabe perdidas num ato de arrependimento. São pétalas avermelhadas pela sua cor e a lama do chão. São pétalas empoeiradas na sujeira da rua.
Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes